Com uma narrativa não linear, a montagem apresenta uma série de quadros mesclando dramaturgia e música
Foto: Cacá Bernardes
Como as religiões afetam a sociedade, a política e até mesmo a economia de um país? Investigar isso e outros aspectos da obstinação religiosa é o ponto de partida de "ANTIdeus", que reestreia no Teatro João Caetano. Com texto e direção de Carlos Canhameiro, a montagem, uma das vencedoras da terceira edição da Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do Centro Cultural São Paulo.
O presidente de um país indeterminado sanciona uma lei revogando os feriados religiosos como feriados nacionais, em respeito à laicidade do governo. Com essa premissa "ANTIdeus" mostra os desdobramentos nas mais diversas camadas sociais sobre deus e a política ou a política de deus.
Com uma narrativa não linear, "ANTIdeus" apresenta uma série de quadros mesclando dramaturgia e música. O enredo gira em um jantar entre amigos, que discutem como a revogação dos feriados religiosos afetariam as principais religiões presentes na bíblia cristã – islamismo, judaísmo e cristianismo (católico e protestante) – e também a sociedade.
A reunião dos amigos é entrecortada por solilóquios que contam diferentes histórias, como um homossexual que quer engravidar de um anjo ou uma criança assassinada por guerras religiosas e também a própria visão do presidente sobre o decreto eliminando os feriados religiosos.
Debater religião
Para o autor e diretor Carlos Canhameiro, o espetáculo busca dar vozes às diferentes figuras que são afetadas diretamente por uma política excessivamente religiosa: mulheres, crianças e toda a comunidade LGBTQIAP+.
“Porém, longe de ser um manifesto contra os religiosos ou em favor da laicidade política, "ANTIdeus" urge em discutir e mesmo poetizar os espaços de ação do homem e da mulher fora dos contextos religiosos e seus desdobramentos práticos: a política, o direito e a liberdade sexual”, explica ele.
Foto: Cacá Bernardes
Idealizada durante um workshop com integrantes do Royal Shakespeare Company, a dramaturgia do espetáculo também tem inspiração no livro O Anticristo, de Friedrich Nietzsche, mas de acordo com Canhameiro, ANTIdeus não é uma peça ateia.
“A ideia é mostrar que é possível discutir religião, além de questionar se vale a pena tanto ódio para quem não compactua de suas crenças. Afinal não são só os extremistas religiosos que cometem atrocidades em nome de tantos deuses”, provoca o autor.
Encenação
Passados cinco anos da estreia, "ANTIdeus" continua atual ao trazer novamente ao debate o poder da religião no meio político. “Não mudei uma linha do texto para a reestreia”, comenta Canhameiro. O ator também frisa a importância de apresentar o espetáculo antes das eleições. “É uma discussão importante, pois atualmente as diferenças estão cada vez mais difíceis de serem aceitas.”
Foto: Cacá Bernardes
Sobre a encenação, Carlos Canhameiro conta que optou por uma direção que privilegiasse as atrizes e atores em cena. “Dei autonomia para eles pontuarem e falarem o texto como quisessem, já que toda a peça é escrita sem pontuação e com isso encontrarem novas camadas no meu próprio texto”, completa ele.
A cenografia e figurinos, assinados por Renan Marcondes, também tiveram um diálogo com toda a equipe da peça. Os atores aparecem em cena vestidos como jogadores de futebol, mas com alguns elementos que remetem a determinadas religiões.
Ficha Técnica
Dramaturgia e Direção – Carlos Canhameiro. Elenco – Carolina Holly, Lua Bernardo, Marilene Grama, Ernani Sanchez, Daniel Gonzalez e Yantó. Trilha Sonora – Paula Mirhan, Rui Barossi e Yantó. Cenografia, Figurinos e Pensamento Visual – Renan Marcondes. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Produção – Marcela Marcucci. Realização – Secretaria Municipal de Cultura | Prêmio Zé Renato.
"ANTIDEUS"
Temporada: De 12 de Agosto a 04 de Setembro
Horário: Sextas e Sábado, às 21h | Domingos, às 19h
Local: Rua Borges Lagoa, 650 – Vila Clementino
Ingressos: Gratuito
Duração: 95 minutos
Classificação: 16 anos
Capacidade: 438 lugares
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