Cantor traz uma sonoridade antropofágica pop ancestral
Foto: Divulgação
Victor Kinjo é cantor, compositor, pesquisador e produtor paulistano de origem shimanchu (povo indígena das Ilhas Ryukyu, Okinawa/Japão). Indicado ao Prêmio da Música Brasileira 2018 como Melhor Cantor Regional pelo seu primeiro disco "Kinjo", em seu novo álbum "Terráqueos", mescla sonoridades e línguas do mundo para refletir sobre um pertencimento planetário.
“Existe um ditado shimanchu que diz “icharibaa chode”, somos irmãos quando nos encontramos. Nesses tempos de pandemia, emergência climática e guerra, acredito que precisamos ao mesmo tempo enfrentar as injustiças históricas que se reproduzem no presente e resgatar nossa ancestralidade comum. Afinal, somos todos terráqueos, feitos de terra e água. Não somente os humanos, mas também os bichos, rios, cidades e florestas”.
Foto: Divulgação
Lançamento da YB Music, o disco começa com uma canção que mistura um poema em tupi do Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade, com uma canção tradicional em uchinaaguchi, a língua indígena de seus avós (reconhecida pela UNESCO como em risco de desaparecimento).
O trabalho ainda traz versões okinawanas de "Um Índio" (Caetano Veloso), "Lugar Comum" (Gilberto Gil e João Donato) e "Todo Cambia" (Julio Numhauser/Mercedes Sosa), bem como composições próprias em português, inglês, francês e uchinaaguchi. Essa alquimia é assinada pela produção musical de João Antunes, Ivan Banho e Guilherme Kastrup, consagrado no Grammy Latino pelo disco “Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares.
Foto: Divulgação
“Durante o meu doutorado em Ciências Sociais na Unicamp, percebi como é invisível a diversidade da música, identidades e histórias asiáticas no Brasil, fruto de uma geopolítica das representações e da hegemonia ocidental que se reproduz acriticamente nas mídias, rádios, filmes, livros e festivais na América Latina. Percebi também o poder da música, principalmente nas cosmologias indígenas, em que as canções trazem ensinamentos: são ao mesmo tempo filosofia, literatura e encantamento. O uchinaaguchi já quase não é mais falado no cotidiano, mas segue vivo nos cantos do nosso povo”.
Foto: Tom Tramis
Em 2021, Kinjo lançou "Bem Por Rio", primeiro single de Terráqueos, com um videoclipe gravado em expedição pelos 1136km do rio Tietê, da nascente, em Salesópolis, até a foz, no rio Paraná. O trabalho culminou no I Festival Navega SP, que reuniu artistas, cientistas e lideranças da sociedade civil num barco atracado no Cebolão, no encontro dos rios Tietê e Pinheiros, ainda poluídos, em São Paulo. Todas essas ações integram a sua pesquisa de pós-doutorado, no Instituto de Estudos Avançados da USP, sobre cultura e regeneração de rios urbanos em São Paulo e outras metrópoles globais, com apoio da FAPESP.
“Vocês acham razoável, em pleno século XXI, uma metrópole como São Paulo viver com tamanha indiferença em relação a suas águas? E o ecocídio do Doce em Mariana e do Paraopebas em Brumadinho? Nossos rios refletem a insanidade, insustentabilidade e injustiça da nossa economia predatória e (des)organização social”.
Foto: Kim Lee Kyung
Atualmente, Kinjo está no Japão, onde lança o disco "Terráqueos" com shows em Koza e Tóquio. Lá investiga a contaminação dos rios de Okinawa por PFOS (Ácido Perfluoro-octanossulfônico) pelas bases militares norte-americanas que ocupam, desde a segunda guerra, 20% do território da ilha contra a vontade da população local.
“Como dizia o mestre okinawano Seihin Yamanouchi, ´A música é a arma que traz a paz no mundo, a arma que pode acabar com a bomba atômica é a música.´ Enfim, sonhos terráqueos para adiar o fim do mundo.”
SOBRE VICTOR KINJO
Foto: Kim Lee Kyung
Victor Kinjo é cantor, compositor, pesquisador e produtor nascido em São Paulo. Neto da diáspora okinawana para o Brasil, foi o primeiro asiático indicado ao Prêmio da Música Brasileira 2018 como Melhor Cantor (Regional).
Em 2017, lançou seu primeiro disco “Kinjo” (Matraca/YB Music, 2017), com produção de Ivan Banho e Ivan Gomes e participação especial de Lenna Bahule, considerado o 20º melhor álbum da música brasileira naquele ano (Embrulhador). Em 2019, lançou, com apoio da Fundação Japão de São Paulo, o single “Flores para o Coração da Gente”, sua tradução para o português da canção “Hana subete no hito no kokoro no hana o”, do artista e ativista okinawano Shoukichi Kina (Matraca/YB Music, 2017).
Frame do Teaser de "Solo Atlântico"
No ano seguinte, lançou seu primeiro livro “Quem são Mishimas?” pela Editora Autêntica. Em 2021, apresentou a canção “Carne e Coragem”, em parceria com Guilherme Kafé e Ana Flor Carvalho pela YB Music e lançou o single e videoclipe "Vem Pro Rio", o primeiro de seu novo disco "Terráqueos".
Como artista e pesquisador, Kinjo apresentou-se em festivais, centros culturais e universidades de diversas cidades do Brasil, Japão, EUA e Europa, incluindo a Universidade de Harvard e o Fórum das Nações Unidas para Questões Indígenas, na sede da ONU, em Nova York.
Foto: Gal Oppido
O artista é doutor em Ciências Sociais pela Unicamp e pesquisador pós-doutor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, com projeto transdisciplinar sobre cultura e regeneração de rios em São Paulo e outras metrópoles do mundo.
Atualmente no Japão, como bolsista da Japan Foundation Research Fellowship, prepara-se para um estágio de pesquisa nos Estados Unidos como pesquisador visitante da New York University Tisch School of the Arts com apoio da FAPESP.
TERRÁQUEOS
Ficha Técnica
Artista: Victor Kinjo
Produção Musical: João Antunes, Ivan Banho e Guilherme Kastrup
Gravado nos estúdios Da Pá Virada, Lebuá, Toca do Tatu e Samaúma de julho de 2019 a agosto de 2021
Projeto Gráfico: Estúdio Claraboia
Foto: Kim Lee Kyung
Assessoria de Imprensa: Yasmim Bianco
Produção Executiva: Água Viva Cultura
Label Manager: Benoni Hubmaier
Selo: YB Music
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