Dirigido por Eliana Monteiro peça é montagem do texto do renomado dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès
Foto: Mayra Azzi
Considerado um dos grandes nomes do teatro francês contemporâneo, o dramaturgo Bernard-Marie Koltès (1948-1989) escreveu, em 1985, a peça Na Solidão dos Campos de Algodão, que acaba de ganhar uma montagem inovadora e ousada dirigida por Eliana Monteiro. O espetáculo estreia na Praça das Artes em temporada gratuita.
A peça é encenada em uma instalação cênica que foi inspirada na obra “La Bruja”, do renomado artista plástico carioca Cildo Meirelles. Esse espaço é todo composto por centenas de fios brancos que invadem e se apropriam da sala de exposições da Praça das Artes, criando uma espécie de não-lugar. E esse cenário poderá ser visitado pelo público fora do horário das apresentações.
A obra de Koltès adota como protagonista a própria linguagem. Na trama, duas pessoas se encontram à noite em um local indefinido - aparentemente com o pretexto de fazer negócios. Uma delas pretende fornecer o que a outra desejaria, mas nem o desejo, nem a mercadoria são revelados. E essa relação mostra-se, ao longo do tempo, como um combate sem vencedores, tendo a solidão como horizonte e a palavra como principal arma.
Foto: Mayra Azzi
“Há aí uma espécie de comércio do desejo, em que o Dealer oferece ao outro o que ele desejar, não sem violência, numa relação que vai se estabelecendo como contraditória e tensa. Essa ‘oferta’ força vendedor e comprador a entrar em contato com sua mais profunda condição humana, com aquilo que pode haver de mais escondido, e que é feito explícito na peça, pelo embate de pensamento dos dois”, comenta a diretora Eliana Monteiro sobre o texto.
A montagem também inova ao trazer, pela primeira vez, os dois protagonistas masculinos do texto interpretados por mulheres, as atrizes Lucienne Guedes e Mawusi Tulani.
Aqui no Brasil, Na Solidão dos Campos de Algodão ganhou uma icônica montagem no porão do CCSP – Centro Cultural São Paulo em 1996, dirigida por Gilberto Gawronski e estrelada por ele e por Ricardo Blat. Na época, a encenação evocava a questão do HIV/AIDS e como a doença representava um fantasma bastante cruel que rondava os desejos e o imaginário da tal como um castigo.
Foto: Mayra Azzi
“Quase 20 anos depois, a AIDS, e mesmo a questão da homossexualidade ali depositada na tensão entre os dois homens da peça, embora não explicitamente, já não está tão presente nos medos do nosso imaginário. Agora, nossa montagem leva ambas as questões para o plano do enfrentamento e disputa social e política, deslocando o problema para a esfera judicial e da militância, felizmente. E, então, a cena teatral desses problemas também tem mudado de feição”, compara a diretora.
Oficina
Além do espetáculo e da visitação ao espaço cênico, a Praça das Artes recebe a oficina “Procedimentos de criação da montagem de Na Solidão dos Campos de Algodão”, ministrada pela diretora e pelas atrizes.
A ideia da atividade é fazer com que as/os participantes experienciem os procedimentos de criação do espetáculo, a partir dos temas evocados pela dramaturgia. O workshop proporcionará ação prática e reflexiva sobre as possibilidades de leitura e encenação dos textos contemporâneos.
Ficha técnica
Texto: Bernard-Marie Koltès
Direção artística: Eliana Monteiro
Atrizes: Lucienne Guedes e Mawusi Tulani
Tradução: Silvia Fernandes
Iluminação: Aline Santini
Direção musical: Dani Nega
Figurino: Claudia Schapira
Espaço cênico: criação a partir da obra La Bruja, de Cildo Meireles
Coordenação de produção: Leonardo Birche e Renata R. Allucci
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Este projeto foi contemplado pela 12ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a cidade de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura
NA SOLIDÃO DOS CAMPOS DE ALGODÃO
Temporada: De 11 a 31 de Agosto*
Horário: Segunda a Quinta, às 20h | Sextas, às 17h e às 20h | Sábados, às 16h e às 19h**
Local: Avenida São João, 281, Centro Histórico
Ingressos: Gratuitos | Reserve aqui
Classificação: 14 anos
Duração: 120 minutos
*Nos dias 20, 24, 25 e 26 de Agosto, sessões com tradução simultânea em LIBRAS
**Sessões extras nos dias 30 e 31 de Agosto, às 17h
Entrada não permitida depois do início
VISITAÇÃO AO ESPAÇO CÊNICO
Quando: De 04 a 31 de Agosto
Horário: Segunda a Sábado, das 10h às 15h
Sinopse: visitação gratuita aberta ao público do espaço cênico da peça Na Solidão dos Campos de Algodão, criado a partir da obra La Bruja, de Cildo Meireles. Composto por centenas de fios brancos que invadem e se apropriam da Sala de Exposições, criando um não-lugar. Todos os dias haverá arte-educadores para receber o público, propor mediações e novas percepções sobre o espaço cênico.
OFICINA PROCEDIMENTOS DE CRIAÇÃO DE MONTAGEM DE "NA SOLIDÃO DOS CAMPOS DE ALGODÃO"
Inscrições: De 01 a 14 de Agosto
Forma de seleção: análise de currículo e breve carta de interesse, enviadas através do formulário.
Resultados divulgados por e-mail no dia 17 de agosto
Oficina: Dias 23, 24 e 26 de Agosto
Horário: Terça e Quarta, das 14h às 17h | Sexta, das 9h30 às 12h30
Local: Sala de exposições
Vagas: 25
Público: Estudantes de artes cênicas (bacharelados, licenciaturas, cursos técnicos, pós-graduação etc)
Sinopse: a partir dos temas movidos pela dramaturgia de Na Solidão dos Campos de Algodão, as participantes e os participantes serão conduzidos pela diretora artística e pelas atrizes da montagem para experienciarem procedimentos de criação do espetáculo. A oficina proporcionará ação prática e reflexiva sobre as possibilidades de leitura e encenação dos textos contemporâneos.
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