Mundana Companhia apresenta produção de 2020 e série de podcast
- Tadeu Ramos
- 18 de fev. de 2021
- 8 min de leitura
A companhia reúne em seus canais digitais a produção realizada durante a pandemia.

A mundana companhia reúne em seus canais digitais a produção realizada durante a pandemia, durante o ano de 2020; são dois espetáculos, um registro de processo e a série de podcast - "Guerra em Iperoig - teatro em pandemia".
"Guerra em Iperoig - teatro em pandemia" é a série inédita composta de cinco episódios sobre o processo de criação do espetáculo teatral Guerra em Iperoig, que estreou ao vivo e online diretamente do Teatro Oi Futuro Flamengo com quatro apresentações e permaneceu em cartaz no serviço on demand até 31 de janeiro. “Nesta série de podcast dividido em cinco episódios tratamos das nossas inspirações e motivações e do processo de criação do espetáculo teatral Guerra em Iperoig feito pela mundana companhia durante o ano de 2020”, diz Aury Porto, roteirista e apresentador do projeto. A produção musical é de Gui Calzavara e a montagem de Ivan Garro.
No primeiro episódio, Fundamentos de uma Guerra, o escritor André Sant'tana e o antropólogo Renato Sztutman falam sobre os acontecimentos de Iperoig em meados do século XVI e como eles foram fundamentais para a criação do trabalho artístico da mundana companhia e para a invenção do Brasil. No segundo, Um processo criativo atravessado por uma pandemia, falas de alguns membros da equipe foram entrelaçadas com as suas impressões, sensações e compreensões a partir do momento em que o relacionamento passou a ser intermediado pelas ferramentas do mundo virtual. Estão nele, Cristian Duarte; Roberta Sachioppa; Lucia Gayotto; Wagner Antônio; Dimitri Luppi; Joana Porto e Stelio Marras.
Interaçoes das artes cênicas com o mundo virtual é que move o terceiro episódio, a pandemia estendida para além das expectativas de tempo, o novo plano de trabalho pontuado por Dimitri Luppi; Wagner Antônio; Cristian Duarte; Gui Calzavara e Lucia Gayotto. O quarto e penúltimo podcast Gui Calzavara; Joana Porto e André Sant'tana falam a respeito da Gênese e composição de três cenas de Guerra em Iperoig. Gui Calzzavara, diretor musical do espetáculo e um dos editores desse podcast fala sobre nossa cena de abertura. Joana Porto, figurinista e co-roteirista do espetáculo detalha cada elemento que compõe o figurino da Figura da Guerra.
André Sant'Anna que escreveu os textos do espetáculo vai até a mitologia tupinambá para contar de onde veio a cena do Cativo e Matador. Segunda cena de Guerra em Iperoig. E para encerrar a série, Guerra de mundos e os Brasis, os antropólogos Renato Sztutman e Stelio Marras falam sobre a antropofagia dos povos tupi da costa e da investida dos missionários da companhia de Jesus com sua catequese. E os dois chamam à atenção os conceitos e objetivos diversos que as guerras podem conter.
As peças:
A partir de pesquisa realizada sobre o acontecimento histórico que entrou oficialmente para os livros como “Paz de Iperoig”, a mundana companhia decidiu, no momento em que completa treze anos de existência, montar um espetáculo com referências essencialmente brasileiras. A estreia nacional foi em dia 14/12 no Rio, no Teatro Oi Futuro Flamengo, ao vivo e online.

“Guerra em Iperoig” nasce de um convite de Bruno Siniscalchi para a mundana companhia, a partir de uma ideia inicial de André Santana de pesquisar a Confederação dos Tamoios. “O tema fez todo o sentido para a companhia, uma vez que estamos num país nascido da guerra, e que se faz e refaz a cada dia pela guerra, mas uma guerra de extermínio do diferente, oposto ao sentido que tem a guerra para os povos Tupinambá”, diz o ator e um dos criadores da mundana companhia, Aury Porto.
A peça fez quatro apresentações diretamente do Teatro Oi Futuro Flamengo com roteiro adaptado para a linguagem digital com cenas pré-gravadas e ao vivo, dando continuidade à linguagem da mundana e ao mesmo tempo respeitando o distanciamento imposto pela pandemia da Covid-19.
“Guerra em Iperoig” abarca um episódio relevante na historiografia nacional pouco conhecido pelo grande público e, segundo Aury Porto, “a montagem propõe uma reflexão, à luz do nosso passado histórico, sobre nossa sociedade, em toda a sua complexidade. Um fato que atravessa toda a história do Brasil.
Em 1500, os portugueses chegaram no Brasil. Em 1534, o Rei de Portugal autorizou, aos donatários das capitanias hereditárias, a escravização indiscriminada dos índios brasileiros. Em 1554, cinco chefes tupinambás se reuniram e fundaram a Confederação dos Tamoios, com o objetivo de enfrentar os portugueses e resgatar índios escravizados. Em 1563, percebendo que a Confederação dos Tamoios venceria essa guerra, Portugal enviou os padres Nóbrega e Anchieta para firmar a “Paz de Iperoig”, no local onde é hoje a cidade de Ubatuba, em São Paulo. Em 1567 os portugueses travam a “guerra justa” contra o povo de Cunhambebe, Aimberê, Pindobuçu, Araraí e Coaquira.
A traição dos portugueses, no episódio da “Paz de Iperoig”, que levou à quase total dizimação dos Tupinambá, foi a primeira de uma série ininterrupta de traições aos brasileiros do litoral e ao litoral brasileiro em si.
As histórias de traição se repetem de tempos em tempos nessa faixa litorânea, entre Cabo Frio (RJ) e São Vicente (SP), território da ex-grande Nação Tupinambá. A peça faz esta trajetória entre os Tupinambás e os colonizadores, do mito ao Anchieta – o grande diplomata que intermediou a relação entre eles – passando pela guerra travada posteriormente após terem se aliado para expulsar os franceses do litoral do Rio de Janeiro. A leitura da mundana companhia é a história das guerras de colonização, da guerra entre os naturais da terra de todas as Américas e os povos colonizadores, que passa pelo apagamento e esquecimento e nesse enredo termina com uma revolta estética e ideológica dos indígenas.
sinopse:
“Guerra em Iperoig” parte de uma pesquisa sobre a Confederação dos Tamoios e faz uma reflexão sobre como a guerra travada entre portugueses e tupinambás em meados do século XVI na região de Iperoig, hoje Ubatuba (SP), se reflete nas relações de exploração dos povos indígenas até hoje. São olhares sobre um fato histórico que inspira uma interpretação do Brasil através dos séculos. No roteiro, cenas da mitologia tupinambá interagem com textos construídos a partir das visões dos colonizadores e dos colonizados. A encenação parte das limitações impostas pela pandemia da Covid-19, restringindo o número de atores por cena e preservando o distanciamento.
FICHA TÉCNICA
texto_André Sant’anna
roteiro_ Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto, Roberta Schioppa, Rogério Pinto e Zahy Guajajara
direção coletiva_mundana companhia
elenco_Aury Porto, Érika Puga, Silvero Pereira e Zahy Guajajara
participações de Anderson Kary Báya, Gui Calzavara, Igor Pedroso, Lian Gaia, Mariana Ximenes e Raquel Kubeo
cenografia_Rogério Pinto
iluminação_Wagner Antonio
direção musical_Gui Calzavara
figurino_Joana Porto e Rogério Pinto
direção vocal e interpretativa_Lúcia Gayotto
direção de movimento_Christian Duarte
colaboração conceitual_Renato Sztutman e Stelio Marras
operação de som e cortes_ Ivan Garro
assistência e operação de luz_Dimi Luppi direção de palco_Arthur Costa
câmera, captação e edição de imagens e sistema de transmissões_ Bruna Lessa - Bruta Flor Filmes
assessoria de imprensa_Adriana Monteiro
fotos_Renato Mangolin
produção executiva _Bia Fonseca
produção_Aury Porto e Marlene Salgado
Os Insensatos
Como desdobramento da investigação sobre as relações entre europeus e indígenas no início da colonização das terras litorâneas de São Paulo e Rio de Janeiro (século XVI), proposta pela mundana companhia no fim de 2019, constitui-se OS INSENSATOS, o mais recente trabalho da companhia, fruto da concepção de um grupo de roteiristas da equipe que realizou a pesquisa.

Partindo de uma ideia original de Cristian Duarte e uma seleção de textos de André Sant’Anna, Aury Porto, Joana Porto, Roberta Schioppa, Rogério Pinto e Zahy Guajajara e o próprio Cristian criaram um roteiro partindo da premissa de exploração que os colonizadores europeus estabeleceram com as terras “brasileiras” e com seus povos originários, desde o início do processo de colonização no século XVI.
“Exploração que atravessou os séculos mantendo os mesmos procedimentos que fermentaram uma certa mania predatória e uma ânsia de exclusão social que, para além das qualidades positivas e anedóticas, nos caracterizam como brasileiros”, diz Aury Porto.
OS INSENSATOS, que estreou com seis apresentações ao vivo diretamente da Teatro de Contêiner Mungunzá em novembro, apresenta quatro alegorias da insensatez social brasileira. O mal-uso da coisa pública, o consumismo, o desinteresse pela racionalidade e a relação superficial com o conhecimento são algumas das características das figuras de cena. O brasileiro aqui é olhado pela lente da insensatez. E essa lente foi aumentada fazendo com que as figuras superem suas características elementares de personagens humanos à medida que seus corpos vão absorvendo características das coisas do em torno e vão tomando formas carregadas de signos.
A peça é constituída de algumas camadas de leitura e de relações com a questão central – a insensatez – construindo percursos próprios, por vezes dialogando com as outras camadas e às vezes não. A trilha sonora, os figurinos, as frases escritas nas camisetas, os textos, o gestual dos atores e os objetos de cena constituem um corpo cênico feito de elementos que não necessariamente são complementares ou equivalentes, permitindo até mesmo interpretações independentes.
Os ensaios presenciais tiveram de ser interrompidos em meados de março, e passaram a ser virtuais devido a pandemia da COVID-19, a peça OS INSENSATOS é um dos resultados que a mundana companhia irá apresentar desta pesquisa desenvolvida nesses 11 meses.
FICHA TÉCNICA elenco_André Sant’Anna, Aury Porto, Érika Puga e Zahy Guajajara participações_Cristian Duarte e Ivan Garro direção coletiva_mundana companhia assistência de direção_Roberta Schioppa textos_André Sant’Anna roteiro_Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto, Roberta Schioppa, Rogério Pinto e Zahy Guajajara colaboração conceitual_Renato Sztutman e Stelio Marras direção vocal interpretativa_Lucia Gayotto direção de movimento_Cristian Duarte trilha sonora_Gui Calzavara operação de som e de corte_Ivan garro câmera, captação e edição de vídeos e sistema de transmissões_Bruna Lessa - Bruta Flor Filmes cenografia_Rogério Pinto assistência de cenografia_Ana Tranchesi cenotecnia_Marcus Garcia figurino_Joana Porto e Rogério Pinto maquiagem_Rogério Pinto luz_Wagner Antônio assistência e operação de luz_Dimi Luppi montagem de luz_Douglas de Amorim e Paloma Dantas assessoria de imprensa_Adriana Monteiro mídias digitais_Yghor Boy fotos_Alessandra Nohvais projeto gráfico_Mariano Mattos Martins produção executiva_Bia Fonseca produção_Aury Porto e Marlene Salgado
EQUIPE_Adriana Monteiro, Alessandra Nohvais, Ana Tranchesi, André Sant’Anna, Aury Porto, Bia Fonseca, Bruna Lessa, Cristian Duarte, Dimi Luppi, Douglas de Amorim, Érika Puga, Gui Calzavara, Ivan Garro, Joana Porto, Lucia Gayotto , Marcus Garcia, Mariano Mattos Martins, Marlene Salgado, Paloma Dantas, Roberta Schioppa, Rogério Pinto, Renato Sztutman, Stelio Marras, Wagner Antônio, Yghor Boy e Zahy Guajajara
Mundana Companhia
Desde o ano 2000, inspirados pela militância política dos artistas de teatro da cidade de São Paulo junto ao movimento “Arte contra a Barbárie”, Aury Porto e Luah Guimarãez desejavam criar um núcleo artístico formado essencialmente por atores-produtores. Almejavam formar uma companhia teatral na qual, a cada projeto, idealizado e produzido necessariamente por um ou mais atores, um diretor, com afinidades afetivas e estéticas com os membros da companhia, seria convidado a integrar-se a esta. O mesmo ocorreria com os profissionais das outras áreas, como cenografia, figurino, música, luz, e até mesmo com outros atores. A cada projeto, a companhia teria um novo corpo forjado na ideia de continuidade na transitoriedade. Com esse pensamento é que foi gestada a mundana companhia. Essa companhia de encontros conscientemente transitórios recebe o adjetivo antes do substantivo e tem seu nome integralmente grafado com letras minúsculas. Esboçou-se assim um projeto de frátria em dissonância com a supremacia do ideário de pátria tão caro à maioria das sociedades do século XX. Essas mudanças nas relações internas deverão necessariamente refletir-se nas relações com os espectadores e, obviamente, nos temas a serem investigados a cada novo projeto. Apesar de elaborado desde a virada do século, o primeiro trabalho deste núcleo artístico só veio a realizar-se muitos anos depois.
Criações: Medeamaterial, Máquinas do Mundo, Necropolítica, Dostoiévski-Trip, Na Selva das Cidades_em obras, O Duelo, Pais e Filhos, O Idiota_uma novela teatral, Tchekhov4_uma experiência cênica, A Queda, Das Cinzas.
SERVIÇO:
Lançamento dos Podcast "Guerra em Iperoig - teatro em pandemia"
uma série de podcast composta de cinco episódios sobre o processo de criação do espetáculo teatral.
Peça:
GUERRA EM IPEROIG
Duração: 50 minutos
Classificação: 14 anos
OS INSENSATOS
Duração: 50 minutos
Classificação: 14 anos
1) GUERRA EM IPEROIG - cenas de um processo/No YouTube da mundana
2) OS INSENSATOS: no Youtube Teatro João Caetano
3) GUERRA EM IPEROIG: no YouTube da Mundana Companhia
4) Podcast GUERRA EM IPEROIG/ teatro em pandemia: no site da Mundana Companhia e YouTube da Mundana Companhia e Spotify
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