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Espetáculo de Cris Wersom investiga a desconstrução do modelo das relações amorosas e dos afetos

"O Amor e Seus Fins" conta a história de um casal que precisa reinventar os pactos de seu casamento


Foto: Vitor Vieira


O casamento como uma instituição capitalista e a concepção romântica do amor são colocados em xeque em "O Amor e Seus Fins", escrito e protagonizado por Cris Wersom e Rodrigo Scarpelli. O espetáculo estreia no dia 28 de outubro no Galpão do Folias.


A dramaturgia surgiu de um desejo que Wersom e Scarpelli tinham de montar uma peça juntos desde que se formaram na EAD-USP. Para a direção, eles convidaram Fernanda Raquel, que também estudou com a dupla.


“Na pandemia, fizemos chamadas de vídeo para matar a saudade e líamos diferentes textos para nos inspirarmos. Lemos ‘Cenas de um casamento’, de Ingmar Bergman, e veio a grande pergunta: é possível se relacionar dentro do casamento de maneira saudável? Ficamos quase um ano pesquisando sobre o tema e tentando responder essa pergunta. Não sei se temos a resposta, mas encontramos interessantes paralelos entre o amor e suas finalidades dentro da sociedade”, revela Cris Wersom.


Foto: Vitor Vieira


Rodrigo Scarpelli conta que nesses encontros muitos outros textos ajudaram a definir o que eles gostariam de investigar. “Há uns anos tentamos adaptar o conto ‘O Jogo da Carona’, de Milan Kundera, mas não conseguimos obter os direitos. Agora essa obra voltou às nossas leituras. Mas lemos também ‘Carta a D’, de André Gorz; ‘Dialética da Solidão’, do Antonio Paz; ‘Amor nos Tempos do Capitalismo’, de Eva Illouz; ‘Reinvenção da Intimidade’, de Christian Dunker; e muitos outros temas, textos, contos e ensaios que discutiam ou versavam sobre o amor/amar e serviram como grandes referências”, esclarece.


A trama do espetáculo acompanha um casal que decide se divorciar depois de 16 anos de um casamento aparentemente feliz. Uma mulher e um homem colocam o contrato na mesa, mas não conseguem assinar os papéis. Entendendo que o amor não foi suficiente para sustentar essa relação, começam um processo de desconstrução e rupturas. Conversam, dançam, brigam, riem e se humilham, num jogo angustiante de aproximações e distâncias. Tentam assim criar outras narrativas.



Foto: Vitor Vieira


Ao fazerem isso vão percebendo que o casamento deles não é só deles, carregam as relações de seus pais, avós, amigos, vizinhos. Todos estão engendrados num sistema fracassado, mas ainda assim, seguem reproduzindo os mesmos padrões. A peça termina sem resposta, mas com a sensação de que, antes de se construir algo novo, ainda será necessário a constante desconstrução de um sistema que não se sustenta mais.


E, sobre essa necessidade, a diretora Fernanda Raquel diz: “Definitivamente não é uma peça contra o amor. É uma peça sobre os fins de um modelo, de um ideário constituído, do ‘casamento como perversão consentida’, como escreveu Christian Dunker. Quem sabe quando nos libertarmos desse modelo, e de tantos outros que aprisionam as inúmeras possibilidades de sermos e estarmos no mundo, possamos amar o amor, amar as pessoas e inventar outros contratos, outras relações menos capturadas pelas formas econômicas, outros afetos e desejos mais amorosos”.


“Ao mesmo tempo que aponta para possibilidade do amor, a peça escancara o fim do casamento como vemos hoje. Lá atrás, o casamento era um negócio. Hoje, a nossa busca é pelo amor e pela felicidade. As insatisfações, as traições, o arrependimento de ter formado uma família, tudo isso foi forçando essa sociedade a aceitar o divórcio. Vimos o fracasso das relações dos nossos pais, mas ainda não conseguimos inventar uma outra forma mais honesta de nos relacionarmos. Como mulher, entendo que o patriarcado é um grande inimigo das relações amorosas e, talvez, a mudança tenha que vir de fora para dentro, do público para o privado”, complementa Wersom.



Foto: Vitor Vieira


A encenação, de acordo com Fernanda Raquel, propõe um espaço de jogo que vai se configurando de diferentes maneiras ao longo da ação. “A separação entre o público e os atores é um tanto borrada. Aliás, gerar proximidades e distanciamentos – espaciais e simbólicos –, através das sonoridades, luminosidades e elementos cenográficos, tem sido a tônica do processo. A criação de perspectiva é uma prerrogativa também para a atuação. Não aderir completamente às personagens nos parece uma tática importante para tensionar o drama que eles vivem – e a própria estrutura dramatúrgica”, antecipa.


Outra referência importante para a direção é a dança. “Há um pensamento coreográfico que atravessa toda a encenação. A ideia de um dueto entre Cris e Rodrigo, que também se transforma em duelo, tem conduzido as práticas de ensaio, entre o mínimo de movimento e o máximo de expansão corporal, brincando com o texto, num jogo de montagem e desmontagem desse casal, e dessa atriz e desse ator”, pontua a diretora.



Ficha Técnica

Dramaturgia: Cris Wersom

Direção: Fernanda Raquel

Elenco: Cris Wersom e Rodrigo Scarpelli

Direção Musical: Guilherme Calzavara

Cenografia: Simone Mina

Iluminação: Aline Santini

Figurino: Ozenir Ancelmo

Comunicação: Pombo Correio

Produção: Catarina Milani

Fotos: Vitor Vieira

Ilustração: Victor Grizzo



O AMOR E SEUS FINS

Temporada: De 28 de Outubro a 04 de Dezembro

Horário: Sexta e Sábado, às 20h | Domingo, às 19h

Local: Rua Ana Cintra, 213, Santa Cecília

Ingressos: R$ 40,00

Duração: 60 minutos

Classificação: 14 anos

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