Premiado bailarino explora como é ser um artista negro criador de dança contemporânea na cidade de São Paulo
Foto: Cacá Bernardes
Depois de ganhar o prêmio APCA por sua interpretação no espetáculo Sismos e Volts, o bailarino Leandro Souza apresenta o solo Eles Fazem Dança Contemporânea durante a programação da 8ª MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo. O trabalho tem três apresentações no Teatro Arthur Azevedo.
O solo de Souza, que também assina a criação e a concepção, tem uma motivação de pesquisa que vai além do movimento e trata das tensões e questões envolvidas na incursão e presença negras na dança contemporânea. O bailarino foi buscar na performance e nas artes visuais inspiração para essa criação.
Foto: Cacá Bernardes
Em cena, num cenário que reproduz o tradicional cubo branco de galerias de arte, ele explora a relação entre o seu corpo, sua fala e um objeto cênico. O espetáculo se dá a partir de uma lógica da repetição, sobreposição e transformação continuas de ações, movimentos e produção de imagens, com o propósito de instaurar uma cena-síntese que possa dar vazão às questões em jogo no trabalho.
A voz de Leandro, repetindo as mesmas frases (em inglês e português) vai criando uma espécie de ritmo para a cena, além de uma sensação de quase hipnose junto ao público, enquanto ele executa movimentos que fogem dos sinais codificados da dança.
Foto: Cacá Bernardes
“Há algum tempo busco em outras linguagens além da dança desafios e respostas para as minhas inquietações. Somente a ideia de dança, entendida como realização exclusiva do movimento corporal organizado ritmicamente no tempo e espaço, não daria conta dessas questões. E o espetáculo também trata dessa tentativa de não se prender a conceitos pré-estabelecidos . Eu quero falar sobre os riscos e a potência de ser artista negro e fazer dança diante de uma paisagem tomada de demandas por representatividade, questões sobre apropriação cultural e anseio pela descolonização da produção de arte e conhecimento, que nos desafia a repensar o como viver juntos considerando, não apenas nossas similaridades, mas também nossas divergências”, explica Leandro.
Foto: Cacá Bernardes
“Existem muitas expectativas e idealizações no imaginário da nossa sociedade de como corpos negros devem ou deveriam dançar. Os corpos negros só podem circular alguns lugares estabelecidos por um lógica colonial (a lógica do recinto fechado como bem fala Achille Mbembe). Sei que esse trabalho só arranha o tema e não elucida nenhuma dúvida, só levanta questões que precisam ser faladas. Ao mesmo tempo, há uma necessidade e um desejo das amplas e diversas populações negras afrodescendentes de valorizar, afirmar e ressignificar modos de fazer e pensar cultura e arte, que por séculos tem sido marginalizadas e vilanizadas. Nos dias atuais, a perseguição a esses modos de existências tem sido acirrados cada vez mais. Entretanto, a diáspora produziu uma infinidade de negritudes que nem sempre podem ser alinhavadas harmonicamente. Como artista, eu penso que a divergência e uma certa critica e desobediência a mecanismos totalizadores é fonte de riqueza e não enfraquecimento. Em termos de arte, eu me interesso por essa negritude que escapa e nos dribla quando tentamos agarrá-la, domá-la e submetê-la as nossas boas ou más intenções”, questiona o bailarino.
Ficha técnica
Concepção, criação e dança: Leandro Souza
Provocação: Ana Pi, Inês Terra, Renan Marcondes e Thaís de Menezes
Luz: Gabriele Souza
Som: Thiago Salas
Figurino: Leandro Souza
Cenografia: Leandro Souza e Tetembua Dandara
Fotos: Cacá Bernardes
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Produção: Tetembua Dandara
ELES FAZEM DANÇA CONTEMPORÂNEA
Apresentações: Dias 08 e 09 de Junho,
Horário: Quarta, às 19h | Quinta, às 19h e às 21h
Local: Av. Paes de Barros, 955, Alto da Mooca
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) | R$ 10,00 (meia-entrada) | Compre aqui
Duração: 45 minutos
Classificação: 16 anos
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