Bendita Trupe propõe "antropofagização contemporânea", de Oswald de Andrade, em novo espetáculo
Foto: Maria Clara Diniz
No Centenário da Semana de Arte Moderna, a Bendita Trupe presta uma homenagem a Oswald de Andrade (1890-1954), realizando uma desconstrução de O Rei da Vela. O resultado desta pesquisa cênica é "Desmascarados - (des)homenagem aos Reis da Vela do século XXI". Com direção de Johana Albuquerque, o espetáculo estreia no Teatro de Contêiner.
O elenco de criadores é composto pelos atores Marcelo Villas Boas, Vera Bonilha, Joca Andreazza, Fernanda Dumbra, Luciano Gatti, Cris Lozano, Sérgio Pardal, Pedro Birenbaum, Silvia Suzy, Jaime Branco, Ma Reys e Lisi Andrade. Completa a equipe em cena, 05 jovens atores que se destacaram no processo formativo como colaboradores bolsistas, contrapartida do Fomento, Lei Municipal que subsidiou o projeto.
Como seria “O Rei da Vela” de Oswald de Andrade, caso ele o escrevesse nos dias atuais? Para responder a tal pergunta, a Bendita Trupe trabalhou com a criação de cenas a partir de fontes documentais, em processo colaborativo. As cenas surgem de um cruzamento entre os materiais modernistas, o ideário oswaldiano, um olhar sobre a peça e os acontecimentos que atravessam a todos em 2022. É dessa mistura e desta colaboração coletiva que surge este novo texto, "Desmascarados" , que é construído no corpo dos atores.
Foto: Maria Clara Diniz
Ainda sobre esse esforço de “comer” a obra oswaldiana, a diretora e idealizadora do projeto Johana Albuquerque acrescenta: “A ‘devoração’ parte do conceito de se alimentar de referências "de fora" para fortalecer "dentro", e a desconstrução que estamos realizando surge exatamente deste lugar: olhar para um Brasil sem empatia e sem máscaras, numa linguagem debochada e demolidora - assim como fez Oswald de Andrade - mas agora com as nossas palavras, com foco no contemporâneo.”
"Desmascarados - (des)homenagem aos Reis da Vela do século XXI" pode ser visto como um espetáculo em camadas, um panorama lúdico e ácido que faz o público rir, constrangedoramente, diante do que nos tornamos depois que a ‘elite da barbárie’ tomou as rédeas do país. O que ressoa da longa investigação da Bendita Trupe sobre o legado modernista e o ideário oswaldiano é a constatação de que os princípios da exploração despudorada que domina o nosso cotidiano não advêm de agora, e sim desde que conquistadores, donos do mundo e fabricantes de impérios dominaram as terras brasileiras em nome de suas majestades reais.
A encenação explora a linguagem do circo e da música (interpretada ao vivo) buscando intensificar as críticas e reflexões propostas pela dramaturgia. “Ao estudar os Modernistas descobrimos que eles realizaram um banquete antropofágico para devorar Piolim. Ele era um palhaço muito admirado nos anos 1930, tinha o seu próprio circo, e Oswald era um amante inveterado do picadeiro. Dizem, inclusive, que desejou ser palhaço e Piolim o aconselhou a escrever.
Foto: Maria Clara Diniz
Mergulhamos, então, no circo-teatro, na palhaçaria e na bufonaria, para nos aproximarmos da estética oswaldiana”, comenta Albuquerque. Para mergulhar nessas linguagens, a trupe contou com a provocação em sala de ensaio de verdadeiras feras: Fernando Neves, Fernando Sampaio, Luciana Viacava e Jhoão Jr.
“Estamos construindo este espetáculo como uma vacina antropofágica em homenagem aos 100 anos da Semana de Arte Moderna. Partimos de um olhar sobre “oS modernismoS”, conceito plural que abarca os acontecimentos e reflexões desde o advento do “modernismo” até às apropriações e debates que se estabelecem hoje, em razão das intensas atividades em torno da efeméride da Semana de 22. As propostas modernistas passavam por olhar o Brasil, nos seus temas e cores, a partir das vanguardas do começo do século 20. Hoje buscamos uma ReAntropofagia, que é olhar o Brasil a partir de uma perspectiva nossa, brasileira, sem o suporte de ‘talheres franceses’. Dar luz à nossa cultura, à nossa diversidade, às diferentes vozes, corpos, ritmos e visualidades que atravessam o nosso território”, explica a encenadora.
A visualidade do espetáculo também presta uma homenagem a Hélio Eichbauer, cenógrafo da montagem de “O Rei da Vela” do Teatro Oficina de 1967, no auge do tropicalismo, priorizando a carnavalização das cores da bandeira nacional (o verde, amarelo e azul), em contraste com o dourado e o vermelho, referenciando o ouro conquistado pelos grandes exploradores em contraponto ao sangue escorrido dos corpos explorados.
Foto: Maria Clara Diniz
O cenário é de Júlio Djocsar; os figurinos são elaborados por Silvana Marcondes; a trilha sonora é criada por Pedro Birembaum e a luz do espetáculo é assinada por Aline Santini. Essa é a mesma equipe criativa do último espetáculo da Bendita Trupe, “Protocolo Volpone”. Juntos aprofundam e ampliam a pesquisa por uma linguagem que traz luz às questões atuais, com irreverência, deboche e forte teatralidade.
Ficha Técnica:
Dramaturgismo e Direção Geral: Johana Albuquerque, “em processo colaborativo” com a Bendita Trupe
Assistência de Direção: Fernanda Zancopé
Assistência de Dramaturgia: Murilo Franco e Denise O Freire
Atores: Marcelo Villas Boas, Vera Bonilha, Joca Andreazza, Fernanda D’umbra, Luciano Gatti, Cris Lozano, Sérgio Pardal, Pedro Birenbaum, Silvia Suzy, Jaime Branco, Marun Reis e Lisi Andrade.
Cenografia: Julio Dojcsar
Iluminação: Aline Santini
Figurinos: Silvana Marcondes
Direção Musical: Pedro Birenbaum
Visagismo: Leopoldo Pacheco
Colaboradores Bolsistas: Barbara Rodrigues (produção/atuação); Chrystian Roque (direção/atuação); Gleice Kelle (atuação); Janaína Rosalen (cenografia); João Zoochio (foto&vídeo); Julia Tavares (figurino); Luciana Silva (luz); Lucas Vanatt (Produção);Pedro Coêntro (pesquisa/atuação); Sérgio Pedalêro (música).
Pesquisa Documental: Gênese Andrade
Design Gráfico: Murilo Thaveira
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Midias Sociais: Platea Comunicação & Arte & Tathiana Botth
Gerência de Produção e Administração: Anayan Moretto
Produção Executiva: Marcelo Leão
Coordenação Geral: Johana Albuquerque
Realização: Bendita Trupe e Lei Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo
DESMASCARADOS - UMA (DES)HOMENAGEM AOS REIS DA VELA DO SÉCULO XXI
Temporada: De 18 de Agosto a 18 de Setembro
Horário: Quinta a Sábado, às 20h | Domingos, às 19h
Local: Rua dos Gusmões, 43 - Luz
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) | R$ 15,00 (meia-entrada) | Compre aqui
Classificação: 12 anos
Duração: 140 minutos
Capacidade: 80 lugares
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