Ator volta aos palcos em breve com espetáculo premiado em Cuba
Foto: Rodrigo Chueri | Leekyung Kim
"Em 2018, foi aberto o dossiê sobre 'lesbocídio' apontando que SP é o estado que mais registra morte de lésbicas" (dado: g1globo.com e vários outros sites.)
Eu como artista brasileiro com 80% de minha arte em SP capital, não poderia deixar de me preocupar com essas vidas. "Porra, sou gay, nossa bandeira morre diariamente sem o mínimo de pudor e de empatia dos grandes poderes".
Eu tenho 15 textos dramatúrgicos escritos, alguns montados, outros em processo de montagem e alguns engavetados. Durante a pandemia, me dediquei a trocar dramaturgias com outros artistas que também escrevem e atuam, leituras virtuais e encontros de troca (não abertos ao público) que me serviram muito de estudo e alimento artístico cultural. A proximidade que esses encontros me fizeram ter com minhas escritas, me fez perceber o quão escrevo para o universo feminino, e não poderia ser diferente, pois minha mãe ( Vânia Goes) é a minha maior força e inspiração de vida.
Foto: Leekyung Kim
Ao me debruçar sobre essas personas de tantos textos distintos que já escrevi, e analisando o cenário atual e peças em cartaz, percebo, e não é de hoje, a ausência de dramaturgias e até espetáculos que dialoguem sobre as mulheres lésbicas, penso que, como artista lgbtqia+ e dramaturgo, precisamos fortalecer nossas lutas, e nossas lutas do "AQUI AGORA".
Para este complexo e desafiador texto teatral, convidei uma provocadora, a atriz, cantora e professora teatral Natália Quadros, para impulsionar as questões abordadas e me ajudar a ter um olhar não machista e tão pouco lesbofóbico sobre a obra, pois entendo que como homem cis, o machismo estrutural, mesmo eu sendo gay e em constante desconstrução, por vezes deslizamos na lama desse patriarcado que lutamos diariamente para banir.
Natália é uma grande artista e mulher consciente da sociedade que vivemos, ela é humana, exala amor ao próximo em tempos de ódio, tem um discurso firme e certeiro, e eu só penso que não poderia ter parceira melhor para este desafio.
"Enquanto atriz e mulher pansexual, que também ama outras mulheres, acho de extrema importância que haja espaço no meio teatral para dar visibilidade e se pautar assuntos relativos ao universo lésbico. Apesar dos avanços em direitos sociais e organização da militância LGBTQIAP+, as lésbicas ainda são um grupo bastante invisibilizado nas mídias e nas artes. Quando recebi o convite do Mário para provocá-lo em relação à construção de uma dramaturgia que abordasse no seu cerne questões do amor entre mulheres, fiquei feliz em poder colaborar. Não vi no Mário um desejo de falar pelas lésbicas, tampouco oferecer respostas à questões deste universo, mas o desejo de ir na contramão dessa invisibilização social e artística e pautar o protagonismo lésbico no teatro. Por ver importância nessa iniciativa, aceitei com prazer o lugar de provocadora dramatúrgica", afirma Natália Quadros, provocadora convidada.
Foto: Rodrigo Chueri
Mário nos conta, que nesta dramaturgia ele quer fazer pontes com pessoas que não assimilam a liberdade de amar, sem potencializar o universo fetichista de duas mulheres "servindo" um homem como sinônimo de "masculinidade viril", mas sim, falar das mulheres lésbicas com elas sendo donas de seus desejos e caminhos, protagonistas de suas próprias narrativas.
Goes ainda acredita que o mundo mudou muito, acha que de forma positiva neste aspecto de nossas bandeiras, e que é sim sua função enquanto artista e gay, não catequizar, mas auxiliar a informação através da arte e amor derrubando barreiras que ainda imperam na sociedade heteronormativa, acreditando naqueles que querem aprender para não nos magoar e por empatia verdadeira.
Preciso ressaltar: Acho muito importante dialogar sobre lésbicas.
Mário Goes finaliza: Imagino que queiram saber o nome do texto?! Confesso que sou péssimo para nomes, mas o texto que partiu de pesquisas, está em fase de escrita e mais pesquisas, e o nome virá depois, afinal, Ariano Suassuna dizia: "Primeiro o filho nasce, depois a gente batiza". Só reintero que não escrevo um texto de ódio, por que disso, o mundo já está cheio.
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