Texto propõe uma reflexão sobre a solidão e o individualismo nas grandes cidades
Foto: Aline Baracho
Com texto inédito do dramaturgo argentino Santiago Serrano, o espetáculo "Chuva de Anjos" faz suas últimas apresentações no Giostri Teatro. Com pinceladas de ironia e utilizando do recurso do Absurdo, a peça propõe, ao abordar o tema tabu do suicídio, uma reflexão sobre a solidão e o isolamento social nas grandes cidades. Montagem do Teatro Kaus Cia Experimental tem direção Reginaldo Nascimento e reúne as atrizes Amália Pereira e Vera Monteiro.
Escrita em 2001, Chuva de Anjos apresenta um diálogo improvável entre duas mulheres em uma praça, rodeadas de edifícios altos, de onde se atiram alguns suicidas. "Um encontro casual entre duas desconhecidas que nos permite visualizar um mundo apocalíptico, mas também reversível. Com humor, estas mulheres expõem suas fraquezas e forças. São um reflexo de nós mesmos, como testemunhas e em parte cúmplices da queda de um paraíso perdido”, afirma o autor Santiago Serrano.
Foto: Aline Baracho
A peça fala principalmente do isolamento, da falta de compromisso com o outro em uma cidade de prédios, com paredes que abrigam, mas, também nos encerram em pequenos mundos privados e nos fazem indiferentes ao que sucede ao nosso lado. Enquanto cada personagem, mulher de cinza e mulher de preto, se torna o cenário de sua própria tragédia, os males da contemporaneidade são apontados em um jogo de claro-escuro, de palavra e silêncio, de presença e ausência, e de caídas metafóricas.
“Nossa modernidade é alimentada pelo narcisismo e o medo do outro. O mundo virtual é um lago onde nos afundamos, presos por nossa própria imagem. Os habitats estão ficando cada vez menores e o medo nos faz permanecer neles. A rua é uma zona de risco constante e perdeu a possibilidade de ser um centro de participação comunitária. Estamos sozinhos e na defensiva. Foi criado um círculo vicioso onde a única saída para muitos é um salto no vazio, seja metafórico ou concreto”, completa o autor.
Foto: Aline Baracho
O espetáculo é focado no trabalho das atrizes, que desenvolvem uma composição cênica que que transita pelo absurdo e o real, o onírico e o trágico, construindo uma cena hibrida. “Diante do público (edifícios), as personagens deixam que, aos olhos da plateia, a imaginação caminhe com a dramaturgia. Abusando da teatralidade, explicitam a angústia dos que buscam uma saída num salto finitivo, no último suspiro que se solta diante da morte”, afirma o diretor Reginaldo Nascimento.
O cenário, de Reginaldo Nascimento, que também assina a trilha sonora, apresenta uma praça formada apenas por um banco e uma pequena árvore. Os figurinos, de Telumi Helen, retratam personagens distintas, uma com uma modelagem cheia de rigor e a outra em aparente desconstrução. A iluminação, de Vanderlei Conte, trabalha com matizes de cores que revelam o jogo das atrizes e ampliam e diminuem o campo de visão da cena. A sonoplastia mescla sons de cidade e músicas instrumentais para pontuar transições e acentuar algumas nuances.
A peça fez uma temporada online, gravada de forma remota e exibida no Youtube das Oficinas Culturais do Estado de SP, em outubro de 2021, como uma das contrapartidas do projeto Teatro Kaus 22 anos, beneficiado pelo Proac Lab 47/2020. Em setembro do mesmo ano participou do projeto Artes Cênicas em Processo, do Sesc Pinheiros, com um documentário sobre o processo de criação da peça online. A pesquisa sobre Chuva de Anjos teve início em 2018, com uma leitura encenada na Oficina Cultural Oswald de Andrade.
Ficha Técnica:
Texto: Santiago Serrano
Tradução: Vera Monteiro
Direção: Reginaldo Nascimento
Elenco: Amália Pereira e Vera Monteiro
Cenário: Reginaldo Nascimento
Figurinos: Telumi Hellen
Trilha sonora: Reginaldo Nascimento
Iluminação: Vanderlei Conte
Cenotécnico: Fábio Jerônimo
Costureira: Stilo Lia/Galeria do Rocky
Fotos: Aline Baracho
Assessoria de imprensa: Amália Pereira
Produção: Kaus Produções Artísticas
Realização: Teatro Kaus Cia Experimental
CHUVA DE ANJOS
Temporada: Até 10 de junho
Horário: Quintas e Sextas, às 20h30
Local: Rua Rui Barbosa, 201, Bela Vista
Ingressos: R$ 40,00 (inteira) | R$ 20,00 (meia) | Compre aqui
Duração: 70 minutos
Classificação: 14 anos
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