Espetáculo fala sobre pessoas trans em um texto-manifesto e um convite para contestar as autoridades de forma plural e cênica.
Foto: Hugo Faz Fotos
Uma peça escrita por uma travesti com atuação de outra travesti. É assim que a atriz Fabia Mirassos define em poucas palavras "Vienen Por Mí", monólogo que estreia na Sala Multiuso do Itaú Cultural. O texto da dramaturga chilena Claudia Rodriguez ganha direção de Janaina Leite e é um convite para contestar as autoridades de forma plural e cênica propondo metáforas que incluem o corpo travesti em diferentes linguagens, como poesia, performance, monólogo e stand-up.
"Vienen Por Mí" fala sobre pessoas trans em um texto-manifesto de poesia e denúncia para perturbar a autoridade vigente de forma rude e coreográfica. A peça – dividida em quatro atos – é um ensaio inesgotável entre arqueologia, maquiagem e filosofia travesti, que produz pontes entre imagens e textos de xamãs, deusas, virgens, santas e loucas, em um único corpo.
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“É importante salientar que falar sobre pessoas trans é quase sempre falar de violência. Seja esta de cunho físico, psicológico ou verbal. "Vienen Por Mí" possibilita uma biografia travesti diferente daquelas que aparecem nos obituários dos jornais. Porque se trata de uma travesti escrevendo sua história enquanto vive. E isso é tudo que importa”, explica Fabia.
Para a atriz, apesar de não ser uma história pessoal,"Vienen Por Mí" traz alguns atravessamentos, principalmente com a questão de dividir com o público como é ser travesti.
“Com o texto da Claudia conclui que a forma como as travestis são tratadas no Chile é a mesma em que são tratadas no Brasil, o que leva a acreditar que são tratadas assim em qualquer lugar do mundo. É utópico – e ainda assim é possível – utilizar o teatro como meio capaz de tornar possível ouvir e enxergar travestis, pessoas, que na maioria das vezes, só são vistas como alvos de violências e violações.”
Ferramenta política
Foto: Hugo Faz Fotos
Fabia Mirassos já vem atuando com a temática LGBTQIAP+ desde 2017 quando estreou a montagem Pink Star, da Cia. Os Satyros e direção de Rodolfo Garcia Vasquez. Na sequência, a atriz engatou alguns sucessos nos palcos e telas, como Luis Antonio-Gabriela, da Cia. Mungunzá de Teatro e direção de Nelson Baskerville; Brian ou Brenda, direção de Yara de Novaes e Carlos Gradim e as séries Todxs Nós (HBO) e Nós (Canal Brasil).
O encontro com Claudia Rodriguez se deu quando Fabia fez a leitura do texto da dramaturga chilena dentro do projeto Histórias de Nossa América, do Coletivo Labirinto realizado virtualmente durante a pandemia. Na ocasião, a atriz teve conhecimento de que "Vienen Por Mí" foi escrito devido a necessidade da autora em contar suas histórias, mas não ter onde e nem para quem. “Como a leitura dramática era virtual, a Claudia assistiu e logo após a apresentação já trocamos algumas impressões. O pedido para encenar o texto no Brasil aconteceu logo depois”, conta Fabia.
Claudia Rodriguez incentiva no Chile a biografia de travestis, transgêneros e transexuais, fazendo disso uma ferramenta política. A ativista também trabalha na conscientização das doenças sexualmente transmissíveis e juntou todas essas experiências na construção do texto.
A dramaturgia é um recorta e cola de diferentes gêneros textuais, assim como a própria travesti. Que, muitas vezes, é recortada e colada. Do seu corpo, da sua história, da sua família ou casa. “ 'Vienen Por Mí' também é isso, um copia e cola de narrativas com o intuito de construir uma biografia LGBTQIAP+ e ocupar um lugar de fala que até então lhes foi silenciado. Dizer por quem ainda não havia dito nada”, revela a atriz.
Encenação minimalista
Referência em teatro documental e autoficção no Brasil, Janaina Leite assina a direção de "Vienen Por Mí". Com uma encenação minimalista, onde o público ficará próximo da cena, a diretora foca nos espelhamentos e diferenças entre o texto e as vivências pessoais da atriz Fabia Mirassos.
Foto: Hugo Faz Fotos
“Apesar de abordar temas inquietantes e urgentes, a montagem não é denuncista. A ideia é se apropriar da delicadeza para dar voz ao discurso da transexualidade e falar de outras coisas inerentes ao humano, como desejo, alegria, humor e potência”, adianta Janaina.
Com recortes de expressões e do corpo da atriz Fabia Mirassos, o desenho de luz de Aline Santini é um aliado do minimalismo proposto pela direção. Janaina Leite também propõe um tom ambíguo no espetáculo com a união das vozes de Claudia e Fabia. “As linhas de contradição desses corpos-manifestos aliadas a tensão do encontro de duas travestis de países diferentes são borradas pelas metáforas da dramaturgia e contundências da performance de Fábia, que circunscreve e presentifica as temáticas propostas.”
Ficha Técnica:
Idealização e Performance – Fabia Mirassos. Texto – Claudia Rodriguez. Direção – Janaina Leite. Assistente de Direção – Emilene Gutierrez. Colaboração Artística – Carol Vidotti. Desenho de Luz – Aline Santini. Visagismo e concepção de figurino – Fabia Mirassos. Concepção e confecção de figurino – Salomé Abdala. Direção de Arte e Designer Gráfico – Renan Marcondes. Fotos – Hugo Faz. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Direção de Produção – Carol Vidotti.
VIENEN POR MÍ
ITAÚ CULTURAL
Temporada: De 19 a 28 de Agosto
Horário: Sextas e Sábados, às 19h | Domingos, às 18h
Local: Av. Paulista, 149 – Bela Vista
Ingressos: Gratuito | Reserve seu ingresso aqui
Duração: 60 minutos
Classificação: 16 anos
Capacidade: 60 lugares
TEATRO DE CONTÊINER MUNGUNZÁ
Temporada: De 05 a 14 de Setembro
Horário: Segunda a Quarta, às 20h
Local: Rua dos Gusmões, 43 – Luz
Ingressos: Ingresso consciente*
Duração: 60 minutos
Classificação: 16 anos
Capacidade: 99 lugares
*O público, consciente do trabalho envolvido para realização do espetáculo, e do valor que ele dá para vivenciar esta experiência, escolhe quanto acha adequado pagar pelo seu ingresso, de acordo com sua condição financeira
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