Espaço será sede do Coletivo Tem Sentimento, que trabalha com geração de renda por meio da costura com mulheres.
Um amplo ateliê de costura está sendo instalado no terreno que abriga o Teatro de Contêiner Mungunzá, da Cia. Mungunzá de Teatro. Também construído com contêineres marítimos, assim como o teatro, o novo espaço, com inauguração no sábado, dia 7 de novembro, será sede do Coletivo Tem Sentimento, que desenvolve projeto de geração de renda com e para mulheres, que vivem no Centro de São Paulo, mais especificamente na região conhecida como Cracolândia, no bairro de Santa Ifigênia.
Com um investimento de 65 mil reais, a sede do Coletivo Tem Sentimento foi construída com três contêineres marítimos – um de 12 metros e os outros dois de seis metros – e conta com ateliê de costura, cozinha e banheiros. O ateliê, que fica no andar de cima, possui uma parede de vidro possibilitando que os integrantes do coletivo possam ver e ser vistos por quem passa pela rua.
A parceria do Coletivo Tem Sentimento com a Cia. Mungunzá de Teatro teve início em 2018 quando Carmen Lopes, idealizadora do projeto, procurou os integrantes do grupo teatral paulistano e solicitou um espaço do Teatro de Contêiner Mungunzá para desenvolver os trabalhos de costura e geração de renda. Para Marcos Felipe, um dos integrantes da Cia. Mungunzá de Teatro, após quatro anos do início da construção do Teatro de Contêiner Mungunzá, o grupo finca mais uma importante bandeira no centro da cidade de São Paulo.
“O nosso Teatro é a locomotiva burocrática e conceitual que puxa o bonde. Atrás vem de tudo: defesa dos direitos humanos, saúde, assistência social, lazer, educação, geração de renda e habitação, entre outros. Muitos grupos caminham lado a lado nessa bonita construção completamente diferente do que conhecemos como espaços culturais, e o Coletivo Tem Sentimento é um desses nossos parceiros”, conta Marcos.
Oficina de moda e geração de renda
Criado por Carmen Lopes em 2016, o Coletivo Tem Sentimento reconhece e considera todas as complexidades que envolvem as vulnerabilidades de quem vive na rua, especificamente na região da Cracolândia. Atualmente, o Coletivo desenvolve um projeto de geração de renda por meio de uma oficina de moda, onde as mulheres atendidas produzem e são remuneradas, para que a partir de um processo de autonomia financeira, possam ter condições de tomar as escolhas e caminhos que elas decidirem. “Essas mesmas mulheres também cumprem um papel de atender outras pessoas, com outras vulnerabilidades, dentro das ações sociais que o Coletivo desenvolve, como na entrega de marmitas, de kits de higiene, de máscaras ou de alimentos”, explica Carmen.
De acordo com Carmen Lopes, o Coletivo Tem Sentimento é fundamentado pela pluralidade de sentimentos que envolvem a relação das pessoas com o mundo e com os outros. “Em uma situação em que pessoas não possuem condições sociais básicas de sobrevivência, como moradia, saúde, alimentação e higiene, desenvolvemos um processo em que o olhar para essas vulnerabilidades, que são múltiplas e complexas, possa ir além do suprimento dessas necessidades básicas e passe a permear formas possíveis de práticas de autocuidado e de autonomia”, acredita ela.
O Teatro de Contêiner Mungunzá conta com apoio do Sesc SP, Paulestinos, Pagode na Lata, A Craco Resiste, A Casa do Povo, É de Lei, Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Municipal de Diretos Humanos e Instituto Goethe.
Sobre a Cia. Mungunzá de Teatro
A Cia. Mungunzá de Teatro iniciou suas atividades em 2008, com uma pesquisa realizada em parceria com o diretor Nelson Baskerville, em torno do teatro épico de Bertolt Brecht, que gerou o espetáculo Por que a criança cozinha na polenta?. Entre 2008 e 2010, a peça realizou temporadas em São Paulo e participou de festivais em todo o Brasil, recebendo mais de 30 prêmios. Entre 2011 e 2013, também com a direção de Nelson Baskerville, a companhia realizou o premiado Luis Antonio–Gabriela, que narrava a história de transformação do irmão de Nelson Baskerville na travesti Gabriela. Concebido na perspectiva do teatro-documentário ou documentário cênico, Luis Antonio-Gabriela fez temporadas em São Paulo, além de circular por todo o Brasil e fazer apresentações em Portugal recebendo vários prêmios, entre eles o Shell e o APCA, o da Cooperativa Paulista de Teatro e o Prêmio Governador do Estado de São Paulo. Em 2015 estreia Era uma Era, que inaugura o repertório infantil da Cia. e no mesmo ano, o grupo leva aos palcos Poema Suspenso para uma Cidade em Queda, onde desdobra o tema da família em uma pesquisa sobre os relicários pessoais dos atores e pedaços de histórias, que se unem a experiências universais.
Em 2017 A Cia inaugura o Teatro de Contêiner Mungunzá, formado por 11 contêineres marítimos em um antigo terreno abandonado no bairro da Luz, centro da cidade de São Paulo. Vencedor do Prêmio APCA na categoria especial de teatro e um dos indicados ao Prêmio Shell de inovação pelo uso arquitetônico inédito voltado para o teatro, inserido na região degradada do centro da capital paulista, o Teatro de Contêiner Mungunzá recebeu, em dois anos, 549 apresentações teatrais (113 espetáculos diferentes). No ano seguinte, o grupo estreia Epidemia Prata, com direção de Georgette Fadel, que comemora 10 anos do coletivo e devolve ao público de forma engajada e poética a experiência vivida em um ano no centro de São Paulo, desde a criação do espaço na região da Luz. Também em 2018, a Cia. lança o livro-arte sobre os 10 anos do grupo – Mungunzá: Obá! Produção Teatral em Zona de Fronteira... – com assinatura do pesquisador teatral Alexandre Mate e colaboração de José Cetra. No início de 2020, Epidemia Prata é encenado na Índia no Festival Internacional de Teatro de Kerala e em maio a Cia. Mungunzá de Teatro lança a Mungunzá Digital, uma plataforma virtual com uma programação eclética de conteúdos artísticos, culturais e sociais, pesquisas e projetos de variados artistas, criando um vasto acervo que abre espaço para conversas e aprofundamento nas obras e conteúdos dispostos.
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