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Renata Carvalho faz curta temporada de "Manifesto Transpofágico" no Centro Cultural São Paulo

A artista também oferecerá uma oficina gratuita para corpos dissidentes

Foto: Danilo Galvão


A atriz, diretora, dramaturga e ativista Renata Carvalho apresenta o espetáculo Manifesto Transpofágico no Centro Cultural São Paulo. Além da temporada, a artista também oferece uma oficina gratuita para corpos dissidentes e leva ao espaço exemplares à venda do livro com a dramaturgia do espetáculo Manifesto Transpofágico.


Neste manifesto, Renata convida, em cena, o público a olhar o seu corpo travesti, incansavelmente, e apresenta a historicidade dele. “Meu corpo veio antes de mim, sem eu pedir”, diz Renata. “De certa forma, eu fiquei grávida de mim mesma. Eu me pari”. O solo aborda o "corpo etapa" dos hormônios, silicone industrial e próteses mamárias, o punitivismo, o encarceramento em massa, a censura, a patologia, a AIDS, a diáspora, as violências e assassinatos acometidos aos corpos trans/travestis: “Eu não me descobri travesti, me gritaram”, reforça a artista.


Renata fala baixo, pausada e ao microfone para “acalmar os olhos e os ouvidos cisgêneros” ao verem ou ouvirem a palavra travesti, repetida e iluminada diversas vezes, e pergunta: “Alguém quer me tocar?”.


Manifesto Transpofágico questiona como as pessoas enxergam o corpo travesti e, por isso, Renata não precisa do rosto. Ela explica: "Nós conhecemos as travestis recortadas, de cima do ônibus, a pé, de bicicleta, na moto ou no carro - ninguém chega perto ou conversa, porque somos perigosas - e é dessa fração de segundos que nossas imagens são formadas".


Livro Manifesto Transpofágico, de Renata Carvalho


O espetáculo é dividido em dois momentos: O primeiro é a apresentação do corpo travesti, suas historicidades, "transcestralidade" e as construções que rodeiam corpos trans/travestis. No segundo momento, Carvalho está na plateia e propõe uma conversa com o público expondo questionamentos pessoais e temas como cisgeneridade, passabilidade e perguntas de qualquer ordem.


Sobre Renata Carvalho

Foto: Danilo Galvão


Renata Carvalho estuda corpos trans/travesti desde 2007 - mesmo ano do seu percebimento travesti - com o seu trabalho como APV (agente de prevenção voluntária) em ISTs, HIV/AIDS, hepatites e tuberculose - pela secretária municipal de saúde de Santos - trabalhando com travestis e mulheres trans na prostituição por 11 anos.


Inicialmente o estudo era mais voltado para o campo da saúde e política - Carvalho é ativista dos direitos humanos e LGBTs, com foco nas pessoas trans e travestis - e aos poucos, como artista, passa a estudar e recolher histórias, biografias, reportagens, artigos, publicações acadêmicas e produções artísticas com a temática trans/travestis, assim como, temas interseccionais.


Foto: Danilo Galvão


No teatro desde 1996, Renata percebeu que a feminilidade do seu corpo dificultava sua presença nos palcos e isto fez com que atuasse na direção durante 10 anos. Em 2012, estreou como atriz no solo Dentro de mim mora outra, em que contava sua vida e travestilidade. Foi a primeira vez que a artista colocou seu corpo como objeto de pesquisa e passou a debatê-lo em cena. Em 2015, continuando esse processo, criou o solo Eu travesti.


A transpóloga nomeia seu estudo: "Transpologia", que denuncia a construção social, midiática, patológica, religiosa, criminal e hiper sexualizante que permeia o imaginário do senso comum sobre pessoas trans/travestis. Imagético construído com o auxílio das artes com suas narrativas viciadas, estereotipadas e cheias de arquétipos com conteúdo transfóbico em suas apresentações e representações, a transfobia recreativa e o corpo risível das pessoas trans/travesti na arte e no humor, e por fim, a prática do transfake que exclui corpos trans/travestis dos espaços de atuação e criação artística.


Foto: Danilo Galvão


Em março de 2017, Carvalho funda o MONART - Movimento Nacional de Artistas Trans, e dentro dele, o Manifesto Representatividade Trans - Diga SIM ao talento trans, que visa a representatividade, inclusão e permanência coletiva de artistas trans/travestis nos espaços artísticos, assim como, pedem uma pausa na prática do transfake. No mesmo ano funda o Coletivo T, primeiro coletivo artístico formado integralmente por artistas trans.


Manifesto Transpofágico é a continuidade desta pesquisa cênica. A transpofagia de Carvalho consiste em se alimentar das suas e dos seus - da sua transcestralidade - digere- as, devolvendo-as em arte, literatura e/ou educação. Carvalho também é graduanda em Ciências Sociais.


Ficha Técnica:

Dramaturgia e atuação: Renata Carvalho

Direção: Luiz Fernando Marques (Lubi)

Luz: Wagner Antônio

Video Art: Cecília Lucchesi

Operação e adaptação de luz: Juliana Augusta

Produção: Rodrigo Fidelis / Corpo Rastreado

Co-produção: Risco Festival, MITsp e Corpo Rastreado.

Difusão: Corpo a Fora e FarOFFa


MANIFESTO TRANSPOFÁGICO

Temporada: De 15 a 19 de junho

Horário: Quarta a Sábado, às 21h | Domingo, 20h

Local: Rua Vergueiro, 1000 - Paraíso

Ingressos: Gratuito

Capacidade: 321 lugares

Classificação: 16 anos


OFICINA PARA CORPOS DISSIDENTES

Quando: Dias 14, 15 e 16 de junho

Horário: das 14h às 17h

Local: Rua Vergueiro, 1000 - Paraíso

Valor: Gratuito

Inscrições: Através do e-mail contato@cororastreado.com

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