Espetáculo está cheio de referências à cultura popular e explora o teatro de cordel de Chico de Assis
Foto: Bárbara Campos
O riquíssimo Teatro de Cordel do saudoso dramaturgo Chico de Assis é investigado pela diretora Débora Dubois em uma nova montagem da peça "Xandú Quaresma - A Farsa do Cangaceiro, Truco e Padre", que estreia no Teatro Cacilda Becker.
O espetáculo, que também tem direção musical de Thomas Huszar e Alex Huszar, segue em cartaz até setembro em diversos teatros da prefeitura.
Encenado pela primeira vez em 1967, o texto de Chico de Assis se chamava originalmente “Farsa com Cangaceiro Truco e Padre” e encerrava uma trilogia de teatro de cordel, composta ainda pelas peças “O Testamento do Cangaceiro” (1961) e “A Aventura de Ripió Lacraia” (1963).
Sobre essa estética investigada pelo autor, a diretora Débora Dubois explica: “É um gênero que reproduz os valores tradicionais e conservadores de uma época, cuja sobrevivência de seus personagens estradeiros, pícaros, anti-heróis por definição, dá-se por força da astúcia em escapar de um sistema opressor”.
Foto: Bárbara Campos
O espetáculo retrata um grupo de teatro mambembe musical que conta as maravilhosas histórias do prisioneiro Xandú Quaresma em uma cidadezinha do sertão nordestino chamada São Sebastião da Serra. Ele está encarcerado há dois anos por enganar o Vigário ao vender-lhe um cavalo cego e velho.
O fora da lei relata que só está preso esse tempo todo porque todos adoram ouvir os seus causos, já que ele é a pessoa mais interessante, criativa e arguta que passou pela cidade em muitos anos.
Ao narrar todas suas histórias fantasiosas, Xandú deixa todo mundo na dúvida sobre o que é verdade e o que é mentira em seus relatos. E essa divertida comédia de costumes ainda evoca figuras históricas brasileiras, como Marechal Deodoro, Padre Cícero, Antonio Conselheiro e Lampião.
“O texto de Chico de Assis é de um humor inteligente, que lembra as grandes obras e os personagens de Ariano Suassuna, assim como o início do cinema no Brasil com Mazzaropi, Oscarito e Grande Otelo”, compara a diretora.
Foto: Bárbara Campos
Ela ainda conta que a vontade de montar essa peça surgiu como uma resposta ao enorme aumento da pobreza, da desesperança e da dor enfrentadas pelo povo brasileiro nos últimos anos.
“Transformei esses personagens de São Sebastião da Serra numa trupe de teatro que espera a oportunidade para se apresentar e fazer o povo sorrir. Comecei a trabalhar com o elenco diversas formas de se movimentarem de maneira grupal, em blocos formados tanto para construir as cenas consecutivas como para cantar e dançar, numa pesquisa sobre coralidades que muito tem a ver com as manifestações folclóricas brasileiras e as ancestralidades gregas e europeias em geral”, revela.
Para dar forma a esses conceitos de forma bela e lúdica, o espetáculo conta com ajuda do bailarino e coreógrafo Roberto Alencar. Já as canções originais de Thomas e Alex Huszar buscam uma mistura de sonoridades tradicionais brasileiras com ritmos extraídos de movimentos que invadem a internet - no TikTok e no Instagram, por exemplo. E, por fim, os figurinos de Kléber Montanheiro têm como inspiração uma poética e bela releitura do quadro “Os Retirantes” (1944), do famoso pintor modernista paulista Candido Portinari.
Ficha Técnica
Direção e concepção Débora Dubois
Apoio técnico: Márcio Macena e Renata Aspesi
Direção de Movimento e Coreografias: Roberto Alencar
Assistência de Coreografias: Renata Aspesi
Consultoria sobre Coralidades: Roberto Moretto
Cenário: Débora Dubois e Elenco
Pintura Artística: Márcio Macena
Cenotécnico: Nilton Araújo
Luz: Karen Mezza
Assistente de Iluminação: Gui Pereira
Fotos: Bárbara Campos
Arte Gráfica: Ana Clara Giovani
Produção: Greta Antoine e Cristiano Tomiossi
XANDÚ QUARESMA
Temporada Teatro Cacilda Becker
Datas: De 02 a 25 de Setembro
Horário: Sexta e Sábado, às 21h | Domingo, às 19h
Ingressos: Gratuito
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