Nos espetáculos, grupo reflete sobre a guerra justa do século XVI e a situação dos povos originários no Brasil atual
Foto: Renato Mangolim
Diante da tragédia enfrentada pelos muitos povos indígenas no nosso país, a mundana companhia mergulhou no conflito histórico entre tupinambás e portugueses para criar os espetáculos "Guerra em Iperoig" e "Os Insensatos", ambos dirigidos por Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto e Rogério Pinto. Depois de ter ganhado uma versão virtual, o díptico estreia no Sesc Belenzinho.
Pouco conhecida pela maioria dos brasileiros, a Confederação dos Tamoios aconteceu em 1554, quando cinco chefes tupinambás se uniram para enfrentar os portugueses, que escravizavam os povos originários desde 1534, quando o Rei de Portugal autorizou os donatários das capitanias hereditárias a subjugá-los.
Em 1563, percebendo que a insurreição venceria a guerra, Portugal enviou os padres jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta para firmar a “Paz de Iperoig” no local que hoje é conhecido como a cidade de Ubatuba, em São Paulo. Em 1567, os portugueses, com o consentimento dos jesuítas, travam a “guerra justa” contra o povo de Cunhambebe, Aimberê, Pindobuçu, Araraí e Coaquira.
Foto: Renato Mangolim
A tramóia dos portugueses no episódio da “Paz de Iperoig”, que levou à quase total dizimação dos Tupinambá, foi a primeira de uma série ininterrupta de traições aos brasileiros do litoral e ao litoral brasileiro em si. E histórias assim se repetem de tempos em tempos nessa faixa litorânea, entre Cabo Frio (RJ) e São Vicente (SP), território da ex-grande Nação Tupinambá.
O díptico da mundana parte desse mesmo conflito para criar dois “roteiros diferentes esteticamente e complementares do ponto de vista da interpretação do fato histórico”, de acordo com Aury Porto. “A peça Os Insensatos pode ser interpretada como um rescaldo social nos dias atuais da guerra empreendida pelos portugueses contra o povo tupinambá em meados do século XVI, sintetizada no roteiro da peça Guerra em Iperoig”, explica o codiretor.
Ele ainda conta que a companhia estudou a mitologia tupinambá, a relação entre esse povo e os jesuítas, a guerra justa do século XVI e a atual situação dos povos originários no Brasil junto com os antropólogos Renato Sztutman e Stelio Marras.
“A nossa pesquisa foi primordialmente sobre as relações entre colonizadores e povos originários. Tensões, acordos, processos de negociações, interesses, relações de amizade, traições, etc. Para isso, lemos textos e tivemos aulas sobre questões específicas dos povos indígenas e, fizemos improvisações de onde surgiram muitas cenas”, comenta Porto sobre o processo criativo.
Foto: Renato Mangolim
O artista também revela que o díptico é o primeiro trabalho da mundana criado inteiramente com referências genuinamente brasileiras. “Sinto que a ascensão desse fascismo miliciano, com o desmascaramento de seus adeptos em todas as classes sociais e segmentos culturais e a explicitação de seus propósitos, foi crucial para nos debruçarmos sobre as mazelas da história do Brasil, seguindo a trilha de algumas valorosas gerações de artistas anteriores a nossa. É um trabalho que devemos fazer diretamente sobre nós mesmos, sobre nossa formação e caráter. É algo que dói dado o grau de crueldade e perversão que fundamenta nosso país, mas que é necessário para operarmos transformações que desejamos e buscamos”, afirma.
Atividade formativa
Além do díptico, a mundana companhia organiza quatro encontros prático-teóricos, com três horas de duração cada, no Sesc Belenzinho, a partir do material de pesquisa e do processo de criação dos espetáculos "Guerra em Iperoig" e "Os Insensatos".
Partindo desse histórico de trabalho, o ator Aury Porto vai dividir a condução de cada um dos encontros com os artistas da equipe da mundana companhia que trabalharam ao longo do processo em 2020.
Ficha técnica - Guerra em Iperoig
Roteiro: Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto, Roberta Schioppa, Rogério Pinto e Zahy Guajajara
Textos: André Sant'Anna
Direção: Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto e Rogério Pinto
Elenco: Aury Porto, Erika Puga, Mariano Mattos Martins, Zahy Guajajara e Ziel Karapotó
Direção de movimento: Cristian Duarte
Direção Vocal Interpretativa: Lucia Gayotto
Direção Musical: Gui Calzavara
Sonoplastia, operação de som e operação de vídeo: Ivan Garro
Cenografia: Rogério Pinto
Figurinos: Joana Porto e Rogério Pinto
Assistente de direção de arte: Beatriz Coelho
Luz: Wagner Antônio
Operação de luz: Felipe Tchaça e Sibila
Vídeos e programação de vídeo-mapping: Bruna Lessa
Contrarregragem: Rafael Matede
Colaboração Conceitual: Renato Sztutman e Stelio Marras
Coordenação de projeto: Aury Porto
Gestão de projeto: Metro Gestão Cultural
Direção de Produção: Carla Estefan
Produção Executiva: Bia Fonseca
Fotos: Renato Mangolin e Alessandra Nohvais
Projeto Gráfico: Mariano Mattos Martins
Manutenção website e redes: Yghor Boy
Audiovisual: Filmagens Figura da Guerra: Cacá Bernardes
Participações em vídeo: Anderson Kary Baya, Igor Pedroso, Lian Gaia, Mariana Ximenes e Raquel Kubeo
Ficha Técnica - Os Insensatos
Roteiro: Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto, Roberta Schioppa, Rogério Pinto e Zahy Guajajara
Textos: André Sant'Anna
Direção: Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto e Rogério Pinto
Elenco: Anderson Kary Baya, André Sant'Anna, Aury Porto, Erika Puga e Lena Roque
Direção de Movimento: Cristian Duarte
Direção vocal interpretativa: Lucia Gayotto
Direção Musical: Gui Calzavara
Cenografia: Rogério Pinto
Figurinos: Joana Porto e Rogério Pinto
Assistente de direção de arte: Beatriz Coelho
Maquiagem: Rogério Pinto
Luz: Wagner Antônio
Operação de luz: Felipe Tchaça e Sibila
Vídeos e programação audiovisual: Bruna Lessa
Contrarregragem: Rafael Matede
Sonoplastia, operação de som e operação de vídeo: Ivan Garro
Colaboração Conceitual: Renato Sztutman e Stelio Marras
Coordenação de projeto: Aury Porto
Gestão de projeto: Metro Gestão Cultural
Direção de Produção: Carla Estefan
Produção Executiva: Bia Fonseca
Fotos: Renato Mangolin e Alessandra Nohvais
Projeto Gráfico: Mariano Mattos Martins
Manutenção website e redes: Yghor Boy
GUERRA EM IPEROIG / OS INSENSATOS
Temporada: De 25 de Agosto a 18 de Setembro
Horário: Quintas, Sextas e Sábados, às 21h30 | Domingos, às 18h30.
Local: Rua Padre Adelino, 1000
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) | R$ 15,00 (meia) | R$ 9,00 (Credencial Sesc)
Classificação: 14 Anos
Duração: 70 Minutos
ENCONTROS PRÁTICO-TEÓRICOS
Local: Rua Padre Adelino, 1000
27 de agosto, das 15h às 18h
Aury Porto + Zahy Guajajara: Atritos, estranhamentos, reconhecimentos, afetos e trocas culturais durante um processo de criação teatral
03 de setembro, das 15h às 18h
Aury Porto + André Sant'Anna: Ideia original e seu desdobramento, escritura e reescritura dos textos da cena ao longo do ano de 2020
10 de setembro, das 15h às 18h
Aury Porto + Renato Sztutman e Stelio Marras: Histórias das relações entre os povos originários e os colonizadores europeus ao longo do primeiro século de colonização dessa faixa litorânea entre São Paulo e Rio de Janeiro
17 de setembro, das 15h às 18h
Aury Porto + Rogério Pinto: Materiais e procedimentos na criação plástica dos espetáculos "Guerra em Iperoig" e "Os Insensatos"
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