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"Galpão de Espera", peça teatral de Allan da Rosa e direção de Ivy Souza, estreia no CCSP

O desafio da direção foi como retratar a violência colonial e contínua

Foto: Noélia Nájera


Em uma revista feita a uma trabalhadora negra, o cachorro do patrão arranca seu braço. A partir deste mote foi criado Galpão de Espera, trabalho vencedor do Edital 6ª Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do Centro Cultural São Paulo. O dramaturgo Allan da Rosa se baseou em estruturas históricas de miséria, aniquilamento, desespero e ausência do país em relação aos povos pretos para mostrar como chegamos, muitas vezes, a um ambiente contemporâneo que parece indicar apenas saídas individuais ou a oferta incessante de si mesmos como produtos na vitrine, deixando de lado, em suas palavras, “uma das maiores forças ancestrais que temos que é a solidariedade, além da coragem de lidar com nossa própria complexidade”.


Cinco personagens negras circulam em torno desse galpão misterioso: é uma agência de empregos, um lugar de trabalho ilegal ou uma senzala? “O personagem principal dessa história é o galpão”, frisa a diretora. A partir de onde e de quem faz a pergunta, o público é convidado a redirecionar o olhar em relação à peça e à estrutura do espaço.


O incidente inicial trágico perpassa os três atos da peça em que os diálogos apresentam as fomes, os segredos e os labirintos de cada um na cena. Donilton (William Simplicio), o patrão, dono do cachorro, que dominou as regras capitalistas; Dona Caruncha (Mawusi Tuani), a anciã que é cuidadora de todos, terna e vingativa; Ascendina (Isamara Castilho), a jovem que lida com o novo corpo mutilado e quer ascender socialmente; Fu (Jojo Brow-nie Souza), com suas perguntas cristalinas e cortantes, que foi educada para o luxo mas vive atolada na precariedade; Expedito (Filipe Roseno), ex-peão que desafia qualquer moral para aprender as regras e golpes do jogo do dinheiro.


“As artes negras hoje passam por um momento especial, diante de tanto assédio e da hipocrisia da sociedade brasileira. São solicitadas e produzidas pencas de obras previsíveis e maniqueístas em nome de uma suposta representatividade, guiada por pura mercadologia ou por ‘likes e seguidores’. Isso passa longe da profundidade de muitas questões ferventes cotidianas e de nossas habilidades ancestrais em lidar com contradições”, diz Allan da Rosa.


A diretora Ivy Souza fez a si mesma algumas perguntas para conduzir os atores e as atrizes em seus papéis. “As personagens querem falar sobre como e em qual tempo eles se movimentam, tentando descobrir suas possibilidades reais de ação dentro de suas trajetórias: eles têm possibilidades de escolha? A partir de qual ética? Essas personagens estão no mesmo lugar de competição quando comparados com toda a sociedade? Então as perguntas não podem ser as mesmas”, reflete a diretora.


Foto: Noélia Nájera


Para ela, a peça traz o desafio de ter como tema principal a violência. “A ameaça se apresenta diferentemente para cada tipo de corpo. Essa peça fala sobre rastros de barbaridade colonial, espiral e contínua, na manutenção das estruturas de poder”, diz Ivy.


Direção e elenco estiveram unidos na criação, - que tem a fisicalidade como forte elemento cênico - em uma colaboração que também contou com Lucas Brandão e sua pesquisa sobre Body Mind Center, o corpo e a mente integrados a partir do deslocamento. E também Clayton Nascimento com seu olhar de interpretação e jogo dramático a partir da própria natureza e identidade dos atores. “Isso tem a ver com o meu pensamento de perceber o movimento como rastro de trajetórias dessas personagens que estão presas nesse galpão e dessa estrutura que os oprime cotidianamente.”, completa a diretora.


Ficha Técnica:

Dramaturgia Allan da Rosa

Direção Ivy Souza

Assistência de Direção Clayton Nascimento

Preparação de Elenco Lucas Brandão

Elenco William Simplício, Mawusi Tulani, Filipe Roseno, Isamara Castilho, Jojo Brow-nie Souza e Rodrigo de Odé

Direção de Produção Corpo Rastreado

Produção Executiva Gabs Ambròzia

Produção Ivy Souza

Foto e Vídeo Noelia Nájera

Criação de luz Lucas Brandão

Trilha Sonora Cibele Appes

Assistência Trilha Sonora Paula Matta

Figurino Renan Soares

Cenógrafo Julio Dojcsar

Operação de Som Alírio Assunção

Montagem de Luz Dida Genofre

Operação de luz Dida Genofre e Lucas Brandão

Assessoria de Imprensa Canal Aberto

Agradecimentos Mirella Façanha


GALPÃO DE ESPERA

Temporada: De 29 de Março a 03 de Abril

Horário: Terça a Sábado, às 21h | Domingo, às 20h

Local: Rua Vergueiro, 1000, Vergueiro

Ingressos: R$30,00 (inteira) | R$ 15,00 (meia)

Duração: 120 min

Classificação: 16 anos

Lotação: 224 lugares


Vendas na bilheteria com duas horas de antecedência


Será necessário apresentar o comprovante de vacinação da Covid-19, com no mínimo duas doses.

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