Peça reflete sobre a vida de dois atendentes de um call center
Foto: Cesar Maier
O espetáculo "Viva Voz", escrito por Herácliton Caleb e dirigido por Marcos Gomes, estreia no Espaço Garganta. A peça acompanha a trajetória de dois atendentes do turno da madrugada de um call center e seus dilemas até a chegada de um novo funcionário que altera o modo de se portar naquele lugar.
Até que ponto o ambiente de trabalho pode suprimir as subjetividades dos funcionários?
“A pergunta surge em contraponto à realidade de muitas empresas, onde os trabalhadores têm suas subjetividades suprimidas por conta de uma rotina castradora e por um sistema que zela pela velocidade em detrimento de uma relação mais humana com o trabalho”, conta o dramaturgo Herácliton.
Foto: Cesar Maier
“Seja na indústria manufatureira ou no ramo de atendimento, muitas vezes essa rotina impede que os trabalhadores se coloquem e se reconheçam uns nos outros, assim como também é parte da agenda o não fortalecimento de vínculos entre os pares”, completa.
“Escamotear as diferenças e peculiaridades de cada funcionário parece ser palavra de ordem em muitas empresas no Brasil. Muitas delas usam roteiros pré-definidos como um modo de otimizar o trabalho e aumentar a produtividade. Mas essa exigência parece ter fortes efeitos na psique humana: ao exigir que um ser pensante siga um conjunto de regras e bordões - e não questione nem empregue sua subjetividade -, a empresa provoca um apagamento do seu valor como sujeito e de sua sensação pessoal de bem-estar.”
E se em algum lugar - especificamente em um ambiente onde a comunicação é o centro - um episódio fugisse a essa constante? Um episódio que fosse uma espécie de catalisador de processos íntimos e interpessoais de expressão… Quais lugares poderiam atingir os funcionários caso suas subjetividades não fossem desestimuladas?
Foto: Cesar Maier
"Viva Voz" fala da vida dos não-heróis - pessoas comuns que viveram algo peculiar e transformador em um ambiente de trabalho. A obra trata de funcionários de um call center que, em plena central de atendimento, deram vazão às suas sensibilidades, encontrando brechas num sistema opressivo de trabalho.
Enquanto processo artístico, a obra se alimenta das reminiscências de três trabalhadores dessas centrais de atendimento - o dramaturgo, o ator e o diretor trabalharam nessa função quando jovens - e propõe uma resistência sensível, uma ode à valorização das subjetividades e singularidades dos trabalhadores brasileiros, que resulta em “compartilhar alguma coisa de outra ordem”.
Ficha Técnica
Texto: Herácliton Caleb
Atuação: Daniela Schitini e Guilherme Dourado
Direção: Marcos Gomes
Produção: Herácliton Caleb
Sonoplastia: Marcos Gomes
Iluminação: Marcos Gomes
Figurinos: Lucas Mayor
VIVA VOZ
Temporada: De 14 de Agosto a 2 de Outubro
Horário: Domingos, às 20h
Local: Rua Doutor Cesário Mota Junior, 277 (sobreloja) – Vila Buarque
Ingressos: R$ 40,00 (inteira) | R$ 20,00 (meia)
Capacidade: 20 lugares
Classificação: 14 anos
Duração: 45 min
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