"As Mamas de Tirésias" Apresenta uma realidade que se aproxima do Brasil atual.
Foto: André Capuano
O escritor e crítico de arte francês Guillaume Apollinaire (1880 – 1918) é conhecido por ter inaugurado o termo surrealismo nas artes. A peça As Mamas de Tirésias, de sua autoria, foi escrita em 1903 e é reconhecida por muitos como a obra que inaugurou o termo do movimento vanguardista. A montagem do diretor André Capuano entra novamente em cartaz após a suspensão da temporada presencial que estava em curso no mês de março de 2020 devido à pandemia de coronavírus. Dessa vez, a peça acontece na área externa da Oficina Cultural Oswald de Andrade.
No elenco estão as atrizes Gilka Verana, Ana Paulla Mota e Priscilla Carbone. Também está em cena Almir Rosa como O Povo de Zanzibar, personagem representado pela discotecagem do espetáculo. Além da peça, haverá também uma uma mostra de cinema surrealista com filmes icônicos que correspondem a essa temática e a mesa de debates Falas Sobre Surrealismo, que trará pesquisadores para falarem sobre esse movimento artístico durante um trecho da peça. No dia 15/1, a mesa é coordenada por Sofia Boito. No dia 22/1, por Vinícius Torres Machado.
SOBRE O ESPETÁCULO
Foto: André Capuano
O drama surrealista As Mamas de Tirésias conta a história de Teresa, que ao romper com seu marido - um homem alucinado por toucinhos - o amarra, se veste com suas roupas, corta as próprias mamas e reivindica a liberdade assumindo a identidade de General Tirésias. Em seguida, ela inicia uma campanha contra a procriação. Seu marido, numa afronta, gera sozinho dezenas de milhares de bebês macabros. O enredo absurdo se soma a uma escrita fragmentada e em versos, elementos representativos da dramaturgia de Apollinaire.
“O acordo que fizemos quando assumi a direção era de que materializássemos ao extremo todos elementos propostos pelo texto, com cada atriz concebendo cada cena a partir de suas próprias inquietações e vontades artísticas”, conta André Capuano, diretor da montagem.
Segundo André, as cenas propostas eram muito diferentes entre si e, não raro, uma contrapunha a outra, o que gerou a concepção da peça. A dificuldade de olhar para a peça como um todo por causa das diferentes visões apresentadas pelas atrizes se revelou o gesto principal do espetáculo. A solução foi o aproveitamento máximo das propostas trazidas por cada uma delas para cada parte do texto. Em seguida, André selecionou e sobrepôs os materiais criados, acrescentando também sua visão e conduzindo a criação coletiva das versões finais das cenas e do espetáculo.
“Nós tínhamos três versões e discursos completamente diferentes entre si - esse choque dialoga com a postura de Apollinaire, que após ter retornado ferido da Primeira Guerra Mundial, revisou o texto e escreveu uma análise absolutamente contraditória com todo discurso que a obra carregava até então. Essa também é uma realidade que se aproxima do Brasil atual, em que múltiplos discursos estão sobrepostos, gerando choques constantes que precisam ser observados e urgentemente colocados no campo da criação artística se quisermos avançar”, conta Capuano.
Foto: André Capuano
Além de uma possível leitura sobre o Brasil contemporâneo, a peça também lança um olhar sobre a questão da emancipação feminina. Segundo a equipe, é simbólico que ao ser abandonado por Teresa, seu ex-marido assume para si a responsabilidade de dar conta do mundo e acabe gerando milhares de criaturas macabras.
“As Mamas de Tirésias é uma peça de reivindicação e elogio à liberdade do teatro, fundamental em tempos de emergência poética, de sufocamento causado pelo avanço do conservadorismo, do ódio e da intolerância”, diz Gilka Verana. A trilha sonora composta coletivamente é fragmentada e, em seus retalhos, traz desde os sons de uma guerra em processo até músicas brasileiras de artistas como Tim Maia e A Cor do Som. A discotecagem fica por conta do ator e DJ Almir Rosa, que assume o papel do Povo de Zanzibar.
FICHA TÉCNICA
Texto: Guillaume Apollinaire
Direção: André Capuano
Atuação: Ana Paulla Mota, Gilka Verana e Priscilla Carbone
Discotecagem e operação de som: Almir Rosa
Coreografias: Paula Petreca
Direção de arte: André Capuano
Cenografia: Julio Dojcsar
Figurino: Julio Dojcsar, Ana Paulla Mota, Gilka Verana e Priscilla Carbone
Assistência de palco e assistência de produção executiva: Muninn Constantin
Locução: Marcelo Rocha
Fotos: Fábio Amaro e André Capuano
Produção: Gilka Verana e Weber Anselmo Fonseca
MOSTRA O SURREALISMO NO CINEMA
Sábados, às 16h
Gratuito - Retirar ingressos com uma hora de antecedência
Capacidade: 30 pessoas
Curadoria: André Capuano
Coordenação: Gilka Verana
22/1 – A Montanha Sagrada
Direção: Alejandro Jodorowsky | Duração: 1h 54min | Classificação: 18 anos
(EUA, México, 1973, Aventura, Fantasia, Drama)
Ladrão (Horacio Salinas) perambula por estranhos cenários repletos de símbolos religiosos e pagãos. Um guia espiritual (Alejandro Jodorowsky) o apresenta a sete pessoas, cada uma representante de um planeta do sistema solar. Então, o grupo segue para a Montanha Sagrada com o intuito de ocupar o lugar dos deuses imortais que lá vivem e dominam o mundo.
Dia 5/2 – La Danza De La Realidade
Direção: Alejandro Jodorowsky | Duração: 2h 10 min | Classificação: 16 anos
(França, Chile, 2013, Ficção)
A cinebiografia de Alexandro Jodorowsky explora as aventuras e as buscas da sua vida. Nascido no Chile, em 1929, na pequena cidade de Tocopilla, Jodorowsky teve uma educação rígida e violenta. Apesar dos fatos serem reais, a ficção ganha vida com um universo poético que reinventa a sua história.
AS MAMAS DE TIRÉSIAS
Temporada: Até 12 de Fevereiro
Horário: Sábados, às 11h.
Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade - Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro
Ingressos: Gratuito (retirar o ingresso na bilheteria com 1h de antecedência)
Capacidade: 30 pessoas
Duração: 240 minutos
Classificação: 18 anos
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