O coletivo artístico faz intervenção política e poética no espaço urbano.
Foto: Leandro Brasilio
MAMIL(a)S marca a retomada do Desvio Coletivo ao espaço urbano, após dois anos sem nenhuma atividade em decorrência da pandemia da covid-19. O grupo, que surgiu em 2011, usa a intervenção urbana como seu suporte artístico e convida pessoas, maiores de idade, de qualquer sexo, cis ou trans, com ou sem experiência em artes, a participarem da atividade, dispondo de seus próprios corpos como instrumento político e poético.
Nesta nova ação a proposta é investigar o limite que os olhos da cidade enxergam nos corpos das mulheres. O grupo deve sair da rua Augusta, altura do número 1.200 e voltar para o mesmo local.
A ideia é desviar os conceitos que temos do corpo, se é “feminino” ou “masculino”, além de sua função na sociedade. “Essas são algumas das questões que serão abordadas durante o desenvolvimento do projeto para intervir no espaço urbano, política e poeticamente, em busca da seguinte reflexão: quem tem medo dos corpos das mulheres?”, coloca Priscilla Toscano, uma das idealizadoras do projeto.
As cerca de vinte pessoas, inscritas antecipadamente, participam da intervenção com o corpo completamente coberto por um tecido colorido, exceto pelos mamilos. Por baixo do tecido, diversidade: mulheres trans, cis, gays, homens cis e trans; pretas, brancas, donas de casa, dominadoras, diretoras, atores e atrizes.
“Sabemos que existem inúmeras respostas para essa pergunta ou que existem inúmeras outras maneiras de elaborá-la. Para nós foi importante fugir do clichê ‘mulher preta x mulher branca x mulher gorda x mulher magra x mulher rica x mulher periférica...’, sempre colocando mulheres em oposição – outra estratégia do patriarcado. Por isso, MAMIL(a)S dispõe dos corpos no espaço urbano como instrumento questionadores do padrão hetero-cis-pratiarcal que pesa sobre a vida de mulheres – cis e trans – de todas as partes do mundo”, completa.
Ao longo de sua trajetória, o Desvio Coletivo representou o Brasil em inúmeros festivais e eventos de arte ao redor do mundo, com destaque para apresentações em 23 Estados brasileiros e Distrito Federal, além de países como Estados Unidos, França, Coreia do Sul, Malásia, Portugal, entre outros.
PROPOSTA ARTÍSTICA
O Brasil é mundialmente conhecido por, supostamente, ser o país da bunda e do futebol. Na efervescência dos anos 90, o corpo, principalmente o das mulheres, foi objeto de exploração midiática destinado a todos os públicos, enchendo de dinheiro os bolsos dos empresários e produtores que não hesitaram em colocar pessoas seminuas na TV aberta, em qualquer horário.
Fotos: Imagens da internet
MAMIL(a)S é uma reflexão sobre o impacto, o efeito que essa “educação” causa na sociedade, começando na história da humanidade e desembocando na cultura do estupro.
Para Priscilla Toscano, “a função dada ao corpo da mulher é sempre a do corpo domesticado, dócil, servil. A sociedade patriarcal espera que o corpo da mulher esteja no lugar de mãe/esposa (para amamentar e se dedicar a manutenção do lar) ou de objeto (para ser consumido), sempre passivo, inerte. Enquanto o corpo do homem sempre foi tido como o corpo do espaço público, da força, do poder.”
A proposta de MAMIL(a)S é desviar o sentido da suposta função do corpo da mulher determinado pela história da humanidade - maternal/contemplativo (passivo, dócil e domesticado) -, para que, na rua, assuma posição política e questione os limites impostos pela sociedade patriarcal que o consome em demasia e, ao mesmo tempo, o rejeita, fazendo com que o país da bunda, seja também o país da violência contra mulheres.
FICHA TÉCNICA
Idealização: Leandro Brasilio e Priscilla Toscano Direção artística: Priscilla Toscano Produção, Coordenação Técnica e Assessoria Jurídica: Leandro Brasilio Vídeo: Bruno Maurício Apoio: WA Danças
MAMIL(a)S
Data: 28 de Novembro
Horário: às 15h
Local: Avenida Paulista/SP
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