No elenco, Anna Toledo, Erica Montanheiro, Rita Pisano, Bruno Perillo, Gustavo Trestini e Haroldo Miklos
Foto: Cassandra Mello
A peça foi escrita 20 anos após o final da ditadura Argentina, num momento de grande crise econômica do país, e nos remete às diversas consequências desse regime, como o horror das crianças "tiradas" dos seus pais militantes e dadas em adoção para outras famílias.
No texto, uma dessas possíveis crianças seria a personagem Lucera, que busca encontrar pistas para juntar as lembranças de sua infância mais remota, e assim tentar entender as ausências que sente. Como se sua história tivesse sido apagada, arrancada de maneira brutal, e metaforicamente como se o continente todo carregasse tal carma para sempre.
Ausências, lapsos, diálogos entrecortados: todas as personagens da peça, cada uma a seu modo, coexistem nesse mundo colapsado. E respondem a ele com a linguagem premente do presente: a violência.
Mulheres Sonharam Cavalos desvela a violência que permeia o cotidiano, incrustada de tal forma em nossas vidas e relações intersociais, que não discernimos mais de onde vem, apesar de que a sentimos pulsar constantemente, como bombas prestes a explodir.
Foto: Cassandra Mello
Historicamente, todavia, sabemos que a ultraviolência é a marca maior do processo de colonização da América Latina, e igualmente das ditaduras militares que nos assolaram e ainda assolam, e, portanto, desde então marcam nossos corpos, nossas almas e nossas atitudes; atitudes essas que seguem se repetindo em looping na montanha russa da história.
No espetáculo vemos um jantar em família. Três irmãos em rotas de colisão desiguais; suas esposas, cada uma à sua maneira estrangeira a esse núcleo masculino. Um encontro desencontrado no tempo, que revela, no limite tênue das relações, uma explosão de memórias soterradas, de marcas invisíveis, das mágoas que carregamos.
A montagem pelas palavras da direção.
“Minha relação com esse texto começa em 2020 com o convite de fazer parte desse projeto. Ou melhor, talvez comece um pouco antes, talvez em 2017, quando fui pela primeira vez com um espetáculo meu pra Argentina e me percebo uma diretora “brasileira” no país onde eu nasci. Ou talvez um pouco antes ainda, quando em 1981 meus pais deixaram a Argentina, que ainda vivia seu “Processo de Reorganização Nacional”, ou dizendo claramente, estava em plena ditadura militar, e vieram para o Brasil trazendo duas meninas pequenas (minha irmã e eu) na bagagem, o que seria meu primeiro deslocamento de muitos entre esses dois países. Enfim, minha encenação é permeada por tudo isso, e nasce do encontro da minha história com as palavras sonhadas de Veronese, a vivência-memória da violência que nos cerca e compõe, a experiência dessa violência percebida e registrada no corpo dos atores e em cada um de nós que sonhamos essa peça juntos e que decidimos colocar essa poesia da violência em cena. E essa história também fala do nosso reencontro com o palco, porque depois de mais de um ano e meio longe, claro que o espaço-teatro e seus elementos passaram a fazer parte dessa narrativa que agora vai poder se completar com um dos elementos mais importantes: o encontro com a plateia.”
O percurso para a realização da obra
A vontade de montar Mulheres Sonharam Cavalos surgiu no final de 2019, quando a atriz Rita Pisano conheceu o texto de Daniel Veronese e se assombrou com a intensidade visceral da escrita do dramaturgo argentino. No início de 2020 convidou parceiros do Teatro para sonharem juntos essa montagem, que foi interrompida pela pandemia. O hiato pandêmico possibilitou estudos virtuais da peça, em seus mais variados contextos, em especial a história da América Latina. O estudo sobre as ditaduras militares do nosso continente sempre foi objeto de interesse da atriz. No texto de Veronese este tema aparece diluído no dia a dia de uma família.
Foto: Cassandra Mello
Ficha Técnica
Texto de Daniel Veronese. Tradução e Direção de Malú Bazán. Elenco: Anna Toledo, Erica Montanheiro, Rita Pisano, Bruno Perillo, Gustavo Trestini e Haroldo Miklos. Trilha Sonora: Malú Bazán e Bruno Perillo. Cenário e Figurinos: Anne Cerutti. Desenho de Luz: Miló Martins. Fotografia: Cassandra Mello. Operação de Luz e Som: Guilherme Soares. Assistência de Produção e Figurino: Marcelo Leão. Produção: Anayan Moretto
MULHERES SONHARAM CAVALOS
Temporada: De 13 de Novembro a 06 de Dezembro
Horário: De Quinta a Segunda, às 20h15
Local: º Andar - Rua Dr. Gabriel dos Santos, 30 – 2º andar, Santa Cecilia
Ingresso: Gratuito | Reserve aqui
Lugares: 20
Duração: 80 min
Classificação: 14 anos
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