Solo de Rogério Corrêa estreia na Casa Fluida, espaço dedicado à cultura Drag Queen
Foto: Leekyung Kim
Com dramaturgia de Rogério Corrêa, direção de Isaac Bernat e interpretação de Gil Hernández, Boy estreia na Casa Fluida, novo bar em São Paulo dedicado à cultura Drag Queen e amigável para a comunidade LGBTQIA+.
O espetáculo nasceu da peça “De Bar em Bar”, escrita pelo próprio Rogério Corrêa,, que reúne os monólogos de quatro personagens que viveram no governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992), quando, além da grande crise econômica e política, o país enfrentava o auge da epidemia de HIV/AIDS.
Foto: Leekyung Kim
Boy é a versão expandida da história de um desses personagens, o michê Fernando. “Eu sentia que a história dele não cabia na peça. Ele não só descreve essa época do ponto de vista das pessoas LGBTQIA+, como viveu muito intensamente nesse período. Ele perdeu muitos amigos e viu a AIDS surgir logo depois da enorme liberação sexual, política e cultural que aconteceu depois do fim da ditadura militar”, conta Corrêa.
A trama conta a história de um garoto de programa que trabalhava como michê em uma sauna gay desde os anos do governo Collor, tendo se relacionado até com figuras importantes da política. Em 2022, no aniversário de 30 anos do impeachment o presidente Collor, ele está no bar da sua sauna e relembra como aqueles anos impactaram a sua vida. O protagonista evoca várias memórias, entre elas a epidemia de HIV/AIDS e as pessoas queridas que perderam a vida para a doença.
Foto: Leekyung Kim
“O que mais me atrai nesse personagem é que ele tem uma mensagem positiva de que a AIDS não destruiu a comunidade, mesmo diante de toda a tragédia e todas as perdas representadas por aquele período. Foi preciso começar a se falar de gays, de sexo anal, de camisinha e de sexualidade. A comunidade LGBTQIA+ começou a se politizar e a se unir para lutar pelos seus direitos. Existia uma ilusão de que a sexualidade era uma opção, mas esse período ajudou a nos mostrar como ela é tão essencial para as pessoas, pois ninguém escolheria algo que traria tanto risco para a sua vida. E o personagem Fernando é a celebração da afirmação da sexualidade, da vida e da resistência da nossa comunidade”, acrescenta o dramaturgo.
A peça, ainda segundo o autor, traça um paralelo entre a década de 1990 e o atual contexto do país. “Temos novamente um novo político de direita no poder, com uma história de fisiologismo, de corrupção, alguém menor que se apresenta como um defensor da maioria. Também temos uma doença que matou quase 700 mil pessoas graças ao descaso deste governo genocida.
Foto: Leekyung Kim
Claro que as doenças são diferentes, mas quero passar uma mensagem positiva para a comunidade LGBTQIA+, que está novamente sob ataque, de que podemos nos fortalecer neste período e ser felizes, alegres e bem-sucedidos na vida, assim como o protagonista, apesar de todo esse risco de sofrermos retrocessos em nossas conquistas”.
Já o diretor Isaac Bernat, que fez parte do elenco da primeira peça no Brasil sobre a AIDS – o espetáculo “Por Que Eu?” (1987), dirigido por Roberto Vignati –, conta que o novo trabalho também tem a missão de alertar as pessoas para o fato de que a doença continua infectando muitas pessoas.
“Quando fiz a peça nos anos 80, aprendi muito sobre a AIDS, porque tínhamos aulas e conversas com muitos cientistas e pesquisadores. Na época, sabia-se muito pouco sobre a doença e ainda se falava que a comunidade LGBTQIA+ era um grupo de risco, o que gerava muitos estigmas. Então, aprendemos que deveríamos falar, na verdade, sobre comportamento de risco e passamos a entender que qualquer pessoa, independentemente da orientação sexual, pode entrar em contato com o vírus”, afirma Bernat.
Foto: Leekyung Kim
O diretor ainda conta que a encenação vai se basear na simplicidade. “Gil, que faz seu primeiro monólogo e já está se dedicando demais ao personagem, vai estar ali conversando com aquele público da Casa Fluida. E ele vai transitar livremente por esse espaço, como se estivesse mesmo no bar da sauna gay. A proposta baseia-se na relação de proximidade com a plateia, de conversar, trocar ideias e contar histórias. Tenho desenvolvido em vários trabalhos que dirigi recentemente essa pesquisa em cima do épico e do narrativo, com influência do grande griot africano Sotigui Kouyaté, um mestre para mim. Claro que o dramático também aparece, mas queremos esse diálogo com o público”, explica.
Foto: Leekyung Kim
E, além do texto de Corrêa, o diretor traz como referência para a encenação, obras como o seriado “Pose”, que retratada os bailes LGBT e a cena Drag Queen nos anos de 1980 no Estados Unidos, e o trabalho do grupo de teatro e dança brasileiro Dzi Croquettes, ícone da contracultura que apresentava performances provocantes, sensuais e eróticas para falar sobre sexualidade e questionar o conservadorismo nos anos de 1970-80.
Ficha Técnica
Dramaturgia: Rogério Corrêa
Direção Artística: Isaac Bernat
Interpretação: Gil Hernández
Participação especial: Felipe Nóbrega
Trilha Sonora: Charles Kahn
Iluminação: João Piagge
Fotos e Vídeo: Leekyung Kim
Identidade Visual e Social Mídias: Diego Fagundes
Assessoria de Comunicação: Pombo Correio
Palestrantes convidados: Bárbara Iara Hugo e Dr. Emmanuel Nasser
Produção: Teatro de Jardim e André Roman
Idealização: Rogério Corrêa e André Roman
Realização: João Piagge e Teatro de Jardim
Projeto contemplado no Edital PROAC LGBT 035/2021
BOY
Temporada: Dias 21, 22, 27 e 28 de Junho*
Horário: Segunda, Terça e quarta-feira, às 19h30
Local: Rua Bela Cintra, 569 - Consolação
Ingressos: Gratuito | Distribuídos 1h antes do início do espetáculo
Classificação: 18 anos
Duração: 50 minutos
Capacidade: 30 lugares
*Dia 21 de Junho haverá debate após o espetáculo com o Dr. Emmanuel Nasser
*Dia 28 de Junho - Sessão inclusiva com Libras
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