Espetáculo tem dramaturgia e direção de Jé Oliveira
Foto: Mayra Azzi
O que pulsa a América Latina? É sobre esta pergunta que o Coletivo Labirinto tem se debruçado nesta etapa de sua viagem estético-política, buscando rotas cênicas no sentido da discussão, da reelaboração, da luta e do sentido da presença em nosso continente. Depois de uma série de trabalhos em que levou à cena textos elaborados no além das fronteiras brasileiras– passando por dramaturgias de Argentina, Uruguai e Chile, por exemplo - a mirada agora é para dentro, tentativas de se (auto) reconhecer nas palavras, limites, histórias, dores, cores e tremores deste corpo e chão comuns, que são nosso continente.
O espetáculo é parte do encerramento do projeto “Histórias de Nossa América”, contemplado pela 35ª edição da Lei de Fomento para a cidade de São Paulo. Dessa forma, carrega um lastro de pesquisa e criação assentado, marcadamente, pelo encontro e fricção da dramaturgia com e na cena contemporânea.
A palavra como fisgada para um horizonte im(possível), a poesia dramatúrgica brasileira no encontro com a ação e inação de cada dia. O objeto disparador deste processo criativo foi o livro Crônicas de Nuestra America, escrito por Augusto Boal e publicado em 1977. A obra reúne dez crônicas que versam sobre situações, ambiências e personagens tipicamente latino-americanas, observadas e colhidas pelo diretor e dramaturgo desde sua saída do Brasil, em 1971, reflexo do endurecimento da ditadura militar em nosso país. Em diálogo com o contexto e conteúdo da obra de Boal, o Coletivo Labirinto propôs, neste processo de criação, um passeio sobre as atuais crônicas deste continente tão cheio de saques históricos, personalidade e contradições. A América Latina da década de 1970 em contágio e contato com o ano de 2022.
Foto: Mayra Azzi
Para esta jornada, o Coletivo encontrou na parceria com o diretor e dramaturgo Jé Oliveira uma potente interlocução acerca de debates e necessidades estéticas e sociais, desenvolvendo conjuntamente um esquema de trabalho fortemente colaborativo e sensivelmente político.
Em sala de ensaio, toda a equipe artística desenvolveu uma série de procedimentos improvisacionais e de composição cênica que levantaram temáticas, caminhos dramatúrgicos e de encenação. O resultado é um espetáculo que mistura códigos expressivos baseados na relação com o espaço poético, com a musicalidade e símbolos visuais latinos e com a palavra na fronteira entre a postura épica e a vocação lírica. Tudo isso com vistas ao encontro de uma América Latina viva, diversa, corajosa e, espera-se, um pouco mais real. Quatro artistas em cena, outros tantos na bagagem, e um desejo de lançar miradas mais adiante, mesmo que para dentro.
Desde sua fundação em 2013, o Coletivo Labirinto tem como pesquisa o olhar para as relações do sujeito com o seu panorama social através da dramaturgia latino-americana contemporânea. Neste trabalho a noção de sujeito e dramaturgia se voltam para nós mesmos, brasileiras e brasileiros ensaiando uma viagem e uma investigação sobre o que é ser latino-americano. Apostando no tenso limiar entre a necessidade da denúncia e a carência do anúncio, o teatro é, mais do que nunca, um lugar de onde se vê.
Ficha Técnica
DIREÇÃO, DRAMATURGIA E TEXTOS: Jé Oliveira
ARTISTAS CRIADORES: Abel Xavier, Carol Vidotti, Emilene Gutierrez e Lua Bernardo (musicista)
ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO: Éder Lopes
INTERLOCUÇÃO ARTÍSTICA : Georgette Fadel e Wallyson Mota
DIREÇÃO MUSICAL: Maria Beraldo
VÍDEOS E PROJEÇÕES: Laíza Dantas
ILUMINAÇÃO: Wagner Antônio
FIGURINO: Éder Lopes
TEXTO ÁUDIO: Abel Xavier e Jé Oliveira
INTÉRPRETE DE LIBRAS: Fabiano Campos
DESIGNER GRÁFICO: Alexandre Caetano – Oré Design
ASSESSORIA DE IMPRENSA: Pombo Correio
FOTOS: Mayra Azzi
ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO: Luiza Moreira Salles
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Coletivo Labirinto
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Carol Vidotti
MIRAR: QUANDO OS OLHOS SE LEVANTAM
Temporada: De 25 de Março a 17 de Abril*
Horário: Sexta e Sábado às 21h | Domingo às 19h
Local: R. Tito, 295 - Lapa
Ingressos: Gratuito
*Dias 08, 09 e 10 de abril com intérprete de LIBRA
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