Espetáculo "(A) DOR (A)" finaliza o projeto “Cia. Provisório-Definitivo 20 anos”
Foto: Bob Sousa
Livremente inspirado na vida de Maria Auxiliadora Lara Barcellos (Dora), militante da Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares) que se suicidou na Alemanha, (A) DOR (A) é um texto que mistura dados biográficos dessa mineira natural de Antônio Dias, com recriações ficcionais baseadas em fatos colhidos por meio de relatos históricos de outros guerrilheiros na literatura e em filmes documentais. Uma atmosfera poética não linear permeia essa colcha de retalhos da vida dessa estudante de medicina que entrou para a clandestinidade, onde três atrizes representando Dora em algumas de suas facetas (a mulher, a guerrilheira e a torturada) dialogam entre si e convivem com os fantasmas da tortura ao mesmo tempo em que se relacionam com a atmosfera política do Brasil e dos países percorridos por ela.
Com texto e direção de Pedro Guilherme, o espetáculo finaliza o projeto “Cia. Provisório-Definitivo 20 anos” contemplado pelo Proac Lab PRÊMIO POR HISTÓRICO DE REALIZAÇÃO EM TEATRO da Lei Aldir Blanc em 2020.
Serão seis ensaios abertos do seu décimo-sexto trabalho em diversos teatros da cidade de São Paulo. No elenco estão Ana Tardivo, Flavia Couto, Pedro Guilherme, Sofia Botelho e Thiago Andreuccetti.
Foto: Bob Sousa
Um texto de um ato, com duração de 90 minutos. Mesclam-se elementos épicos e dramáticos de forma não-linear. A pesquisa e escrita do texto foi inicialmente encomendada por Henrique Stroeter e também ocorreu no âmbito do Programa de Ação Cultural Proac nº 40, de 2014, e aprovado no Edital do “Concurso para Bolsa de Incentivo à Criação Literária no Estado de São Paulo – Texto de Dramaturgia”. Texto Vencedor do 2o. Concurso Nacional FETAERJ de dramaturgia –Prêmio João Siqueira em 2015 no Rio de Janeiro. No mês de dezembro, completando o projeto “Cia. Provisório-Definitivo 20 anos” serão realizados seis ensaios abertos em diferentes teatros da cidade, todos gratuitos.
A peça tem como objetivo traçar uma reflexão sobre o momento político brasileiro atual a partir do retratado no espetáculo dentro do período do Regime Militar. Mais precisamente, sobre a participação dos jovens na vida política do país de uma forma ativa e utópica. Em paralelo a isso, também se busca questionar a violência que sofrem aqueles que se opõem francamente à ordem capitalista estabelecida, em especial o grupo de militantes que entraram para a luta armada no momento de linha dura da ditadura e foram vítimas de tortura, e, no caso de Dora, posterior exílio.
Um mergulho não só racional mas também emocional e sentimental nos subterrâneos da história do país.
Segundo Jacob Gorender no livro Combate nas Trevas – A esquerda brasileira: Das Ilusões perdidas à luta armada, “sem o exercício do poder coercitivo não existiria o Estado burguês. O golpe direitista de 1964 arrancou os véus que disfarçavam a violência do Estado burguês no Brasil.” Descobrir assim os limites democráticos da sociedade atual através do olhar voltado pro passado, tudo isso sem necessariamente trazer respostas, mas até perguntar profundamente ao espectador/leitor da obra se é possível a caminhada humana na Terra sem a existência de utopias transformadoras parece ser fundamental numa sociedade cada vez mais normativa e mercadológica.
As “transgressões” da juventude de 68, são, talvez, a primeira busca de resposta mais clara a essas questões dentro da modernidade e da contemporaneidade. Revisitá-las, ressignificando-as, sem um forçoso olhar maniqueísta para os fatos, ainda que esses nos levem às mais altas transgressões aos mais básicos direitos humanos no caso das torturas, poderá nos levar a entender como se dá a interação social da nossa juventude atual. Hoje em dia, tem-se um contingente assustador de pessoas anestesiadas de um lado e de rebeldes sem causa do outro, tornando necessário analisar os processos históricos como mais profundos do que se pensa. Talvez a ditadura tenha deixado heranças políticas e sociais maiores dentro do cenário atual do que pode imaginar nossa vã filosofia.
Foto: Bob Sousa
Assim, o estudo e a colocação da história na dramaturgia analisando todos os pontos de vista dos envolvidos no conflito, aliado à fruição estética da obra em si, pode ser um importante instrumento para pensarmos o sistema político, educacional e cultural do país livre das estruturas que se arraigaram a estes. Em outras palavras, mais do que eleições diretas e liberdade de expressão, a revisão dos fatos nos mostra que a democracia é um processo de atualização e de constante revogação dos modos de funcionamento do passado. Alguns exemplos que sempre devem ser transformados e que possivelmente tem a sua estruturação influenciada pelo período militar: Uma polícia que não oprima e sim proteja o cidadão, alianças políticas não pautadas em governabilidade somente, a busca de sistemas educacionais preocupados em formar cidadãos pensantes e não somente mão de obra para o mercado de trabalho.
Dora, mulher, militante, realmente preocupada em fazer diferença no quadro político e social, ao ter sua vida massacrada pelo exílio e pela tortura, nos faz ver que ter o pensamento voltado para o ser humano no mundo de hoje, pode ser um ato de extrema ingenuidade. Mas talvez seja o único necessário.
FICHA TÉCNICA
Texto e Direção: Pedro Guilherme
Elenco: Ana Tardivo, Flavia Couto, Pedro Guilherme, Thiago Andreuccetti, Sofia Botelho
Figurino: Maria D’Cajas
Cenário: Pedro Guilherme
Cenotécnico: Mateus Fiorentino Nanci
Trilha Sonora: Barbara Frazão
Iluminação: Vinícius Andrade
Edição de Vídeos: Gabriela Bernd
Operação de Vídeo: Júnior Docini
Fotografia: Bob Sousa
Arte Gráfica: Flavia Couto
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Produção: Pedro Guilherme
idealização inicial do projeto de Henrique Stroeter
Realização: Cia. Provisório-Definitivo
(A) DOR (A)
Dia 08 às 20h
Centro Cultural da Diversidade: Rua Lopes Neto, 206 – Itaim Bibi
Dias 09 e 10 às 19h
Oficina Cultural Oswald de Andrade: Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro
Dia 15 às 20h
Centro Cultural da Diversidade: Rua Lopes Neto, 206 – Itaim Bibi
Dia 16 às 21h
Espaço Companhia da Revista: Alameda Nothmann, 1135 – Campos Elísios
Dia 17 às 21h
Teatro Alfredo Mesquita: Avenida Santos Dumont, 1770 – Santana
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