Adaptação para o texto de Boal recebe temporada gratuita e online
Foto divulgação
O ano é 2043. Ao revirar coisas guardadas em sua casa, uma garota encontra o celular de seu falecido pai, um professor de história que havia dirigido uma peça de teatro. No aparelho estão arquivos de vídeo registrando essa tentativa de montagem, ocorrida entre os anos de 2020 e 2021. O texto em questão era O Corsário do Rei, de Augusto Boal, que remete à história real do corsário René Duguay Trouin, uma espécie de pirata autorizado pelo Rei francês a montar uma sociedade de ações com o intuito de “sequestrar” a cidade do Rio de Janeiro. O texto faz, assim, uma analogia com os primórdios do capitalismo moderno.
A Cia Coisas Nossas estreia adaptação para o texto de Boal com temporada gratuita e online, que acontece de 9 a 20 de setembro às 20h, todos os dias, pelo Canal do Youtube do grupo. Com músicas de Chico Buarque e Edú Lobo, roteiro e direção de Dagoberto Feliz, direção musical de Marco França e cenário e figurinos de Kleber Montanheiro, o elenco é composto pelos atores Cristiano Tomiossi, José Eduardo Rennó, Dani Nega, Marco França, Greta Antoine, Rebeca Jamir, Priscila Castello Branco, Conrado Caputo, João Attuy e Nábia Vilela e pelos músicos Marco França, João Attuy e Paloma Carvalho.
O que a garota vai percebendo, ao assistir aos vídeos, é que os graves eventos políticos e sociais, de saúde pública, ocorridos no início da década de 2020, afetariam estruturalmente o projeto teatral de seu pai. Uma pandemia mundial havia condicionado todo o elenco a produzir uma obra teatral à distância, apoiados nos recursos tecnológicos de comunicação de sua época, através da internet. A linguagem estética teatral, naquele momento, estava se deslocando, tentando se adaptar a uma realidade em que nem o público, nem os atores, nem ninguém podia se encontrar e se expor à contaminação.
Em O Corsário do Rei do Meu Pai, vemos a tentativa da garota de compor um documentário baseado no que sobrou dessa obra incompleta de seu pai. Da mesma maneira, ela tenta descobrir sua própria história, sua origem, ao recompor esses fragmentos do passado.
O TEXTO DE AUGUSTO BOAL
Depois de 14 anos no exílio, Boal montou a peça que trata das aventuras do corsário francês, Duguay Trouin, que invadiu o Rio com o propósito de ocupá- lo e depois revendê-lo aos portugueses e brasileiros. Para ele, era perder tempo e dinheiro com as meras operações de pirataria. O rei da França autorizou a empreitada. Daí por diante, muita sátira e denúncias da corrupção da administração e do clero, a exploração do capitalismo e todas as mazelas do Brasil de ontem e de hoje. A peça não foi bem recebida pela crítica. Armou-se um “bafafá" no cenário cultural brasileiro, de um lado defensores do talento de Augusto Boal, de outro, um segmento atrasado, provinciano, cujo espírito estaria marcado pelo chamado jequismo. Na verdade, uma postura preconceituosa contra um brasileiro que viveu no exílio. O sarrafo sofrido por Boal respingou em Darcy e impossibilitou às crianças das escolas do Rio viver a experiência do teatro do oprimido, tão bem explorado na Europa e com efeitos positivos.
Elenco de "O Corsário do Rei do Meu Pai"
RELEVÂNCIA DE AUGUSTO BOAL
A obra de Augusto Boal é reconhecida internacionalmente. Talvez seja o nome mais importante do teatro brasileiro no que diz respeito à construção de linguagem. Foi um dos teóricos e dramaturgos que mais contribuiu para a criação de um teatro genuinamente brasileiro e latino americano. Desde o início de sua carreira, no teatro de Arena, até as experiências com o Teatro do Oprimido, técnica que o tornou mundialmente conhecido, sua preocupação foi a de criar uma linguagem que pudesse traduzir a realidade do seu país, uma maneira brasileira de falar, sentir e pensar. Essa preocupação imprime ao seu trabalho uma dimensão política e social, concebendo o teatro como instrumento de transformação baseada na temática e na linguagem. Todos os passos percorridos por Boal foram marcados pelo seu espírito investigativo e sua preocupação política: o teatro como resposta às questões sociais; o teatro como meio de analisar conflitos e apresentar alternativas. É autor de diversas obras literárias publicadas em vários idiomas e recebeu, durante sua vida profissional, um arsenal extraordinário de prêmios e honrarias. Tendo em vista a multiplicidade e a diversidade das contribuições dadas por Boal à cultura brasileira, bem como o caráter revolucionário de suas ações, julgamos que o contato com a sua obra sempre servirá de estímulo para o aprofundamento das linhas de pesquisa por ele elaboradas ou sugeridas.
FICHA TÉCNICA
Texto: AUGUSTO BOAL
Músicas: CHICO BUARQUE e EDÚ LOBO
Direção: DAGOBERTO FELIZ
Direção Musical: MARCO FRANÇA
Cenário e Figurino: KLEBER MONTANHEIRO
Elenco: Cristiano Tomiossi, José Eduardo Rennó, Dani Nega, Marco França, Greta Antoine, Rebeca Jamir, Priscila Castello Branco, Conrado Caputo, João Attuy e Nábia Vilela
Músicos: Marco França, João Attuy e Paloma Carvalho
Produção: CIA COISAS NOSSAS DE TEATRO
Direção De Produção: CRISTIANO TOMIOSSI
Produção Executiva: PRISCILA CASTELLO BRANCO
Montagem e Edição: ANA CLARA GIOVANI
Roteiro: DAGOBERTO FELIZ
Arranjos: MARCO FRANÇA
Preparação Vocal: REBECA JAMIR
Instrumentos, Samplers e Programações: MARCO FRANÇA
Sonoplastia: MARCO FRANÇA
Mixagem e Finalização de Áudio: MARCO FRANÇA
Arte Gráfica – SATO DO BRASIL
Assessoria de Imprensa – POMBO CORREIO
Assistência e Confecção de Figurino - MARCOS VALADÃO
Assistência e Confecção de Cenário - THAIS BONEVILLE
Direção de Fotografia – JOSÉ EDUARDO RENNÓ
Identidade Visual – CRISTIANO TOMIOSSI
Ilustrações – GRETA ANTOINE
Assistência de Produção: CONRADO CAPUTO e JOÃO ATTUY
Operação de Camera – FELIPE CORVELLO
Operação de Luz – DOUGLAS FERREIRA
Produção de Audio – PALOMA CARVALHO
O CORSÁRIO DO REI DO MEU PAI
Temporada: De 09 a 20 de Setembro
Horário: às 20h
Local: Canal YouTube Cia Coisas Nossas de Teatro
Ingressos: Gratuitos
Duração: 120 Minutos Classificação: 14 anos
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